- Folha de S. Paulo
Bolsonaro reage com indiferença às acusações que lhe fazem. Sabe que não levarão a nada
Jair Bolsonaro é chamado de criminoso todos os dias por uma infinidade de veículos, analistas e motivos. Destes, o principal é a acusação de genocídio por sua atuação diante da Covid-19, trabalhando pela disseminação da pandemia para que, quanto mais gente morra, mais depressa venham a imunização e a retomada da economia, essenciais para sua reeleição. Bolsonaro reage ao estigma com “E daí?” e, quando se digna a se defender, diz, sem ruborizar: “Fiz o possível e o impossível para evitar mortes”. Sem esquecer seu desprezo pelos povos indígenas, sujeitos à dizimação pela doença e pela expulsão de suas terras.
A destruição do meio ambiente e o desmonte dos serviços de proteção igualmente se enquadram na categoria crime. Bolsonaro é acusado de praticá-los desde que assumiu, sob olímpica tolerância de uma força que, no tempo do marechal Rondon, era comprometida com sua defesa —o Exército.
Tudo isso tem sido alvo de denúncias por órgãos sérios, mas só agora elas começam a incomodá-lo e ao agronegócio —porque podem trazer prejuízo para seus cofres. Pressionados por seus consumidores, os outros países temem negociar com um governo que quer arrasar o próprio território. Daí Bolsonaro ter afirmado há dias, também sem ficar vermelho, que “a Amazônia não arde em chamas”. Apenas arde.
Não admira que, por frases como essa, Bolsonaro viva sendo chamado de mentiroso. Para surpresa de ninguém, o combate à corrupção, o controle dos gastos públicos e a superação da “velha política” eram só promessas de campanha. Mas, embora percebam que Bolsonaro pratica o contrário do que lhes prometeu, seus eleitores não o abandonam.
É como se lhe tivessem dado salvo-conduto para traí-los. Assim como fingem não enxergar os rolos da família Bolsonaro com o nosso dinheiro, desde o tempo em que eles negociavam com açaí, chocolate e laranjas.
*Ruy Castro, jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
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