- O Globo
Mas podem me chamar de antifascista
A expressão antifascista, naturalmente, nasceu com o fascismo, depois da Primeira Guerra Mundial (1914/18). Já sua redução para antifas aconteceu em 1930, na Alemanha, pelos opositores de Hitler e do fascismo, pela dificuldade de pronunciar antifascista em alemão. Noventa anos depois, Donald Trump se apropriou da expressão, tirando seu caráter libertário e usando-a para designar como terroristas todos os movimentos sociais de protesto, chamando-os de antifas. A palavra é tão boa que parece uma criação do marketing político americano, remete a sonoridades árabes, a “intifada”, é ótima para aterrorizar a base eleitoral de Trump, que nem sabe o que é fascismo. Antifa, com Trump fazendo biquinho, só pode ser coisa ruim. Parece uma doença. Uma organização secreta capaz de provocar uma antifada.
Os antifas de verdade não usam turbante e nem são necessariamente de esquerda, são democratas, liberais, independentes, lutando para recuperar seu significado no campo de batalha das redes sociais contra a apropriação de Trump, que já tem sua versão cabocla de Eduardo Bananinha, fake do fake, que dá a antifas o sentido tosco de terroristas internacionais que querem derrubar o Jair.
Como entender o ministro da Justiça tentando criminalizar quem é contra o fascismo? Parece que estão defendendo o fascismo, né ? Ah não, mas antifa é outra coisa, vai mugir a boiada digital, é um movimento terrorista internacional para desestabilizar governos. Talvez até jogar bombas em quartéis, como planejou um capitão expulso do Exército.
O problema é que antifas é uma palavra tão expressiva para um movimento amplo de oposição democrática que não merece ficar nas mãos, e nos robôs, dos desinformadores profissionais a serviço do gabinete do ódio.
Isto posto, declaro-me antifa, mas podem me chamar de antifascista, o dever de um democrata é reagir a regimes autoritários. E também antinazista, antimilitarista, antitrumpista, antinegacionista, antiterraplanista. Em resumo: antibol, antibolsonarista.
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