A visão conspiratória impede o presidente de entender a real dimensão da questão ambiental
O meio ambiente continua a ser problema no governo Bolsonaro. A leniência perante os crimes ambientais, em especial na Amazônia, vem desde a campanha eleitoral. A preocupação começou a crescer antes da posse. Entre novembro e dezembro de 2018, grandes empresas do agronegócio já alertavam o futuro presidente para o risco de boicote às exportações de alimentos, devido ao descaso com a preservação ambiental. A participação de Bolsonaro na cúpula de países da região amazônica, na terça-feira, prova que ele nada aprendeu em um ano e meio de governo.
Continua com a mesma percepção equivocada do que acontece na Amazônia. Enquanto o vice, Hamilton Mourão, admitia que a destruição avançou no ano passado, Bolsonaro, no melhor estilo negacionista, tachou de “mentira” que a floresta “arde em fogo”. Os fatos são outros. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou em julho 6.803 focos de incêndio, ante 5.318 no mesmo mês de 2019. Bolsonaro afirmou que o desmatamento retrocedeu em relação a 2019, desprezando o avanço de 34% em 12 meses, o maior em uma década. Não é verossímil acreditar que o mundo vá ignorar o que acontece numa das regiões mais esquadrinhadas do planeta.
Mourão assumiu o Conselho da Amazônia e abriu espaço de diálogo com grupos empresariais dentro e fora do país. Pressionados por acionistas e clientes, não querem contribuir para a destruição da Amazônia, ao vender alimentos produzidos em áreas de desmatamento. Os três maiores bancos brasileiros firmaram uma aliança para interromper o financiamento a qualquer iniciativa que resulte em devastação. A agenda é global — e levada a sério.
A articulação de Mourão pode distender o ambiente, mas na essência a Amazônia continua desprotegida. O ministro Ricardo Salles é responsável pelo desmonte da fiscalização do Ibama e do ICMBio e por revogar normas de proteção, “passando a boiada”. Nada leva a crer que as estruturas de fiscalização serão restabelecidas. As multas estão paralisadas. E enviar tropas não é solução.
A verdade é que Salles não desagrada ao presidente. Bolsonaro crê que a floresta existe para ser explorada. Vê garimpeiros como força civilizatória. Considera as ameaças de boicote tão somente uma retaliação de concorrentes do Brasil no mercado mundial de alimentos.É uma visão conspiratória que o impede de entender a questão amazônica em toda a sua dimensão. A permanência de Salles na pasta do Meio Ambiente, a despeito de tudo o que já disse e fez, diz muito.
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