Em
essência, elas preveem que os algoritmos das grandes plataformas digitais
precisam ser mais transparentes
Esta
semana, duas propostas diferentes para como lidar com a desinformação on-line
foram postas na mesa. São inovadoras, se implementadas mudarão de forma radical
como as grandes plataformas digitais funcionam. Ambas têm por objetivo defender
as democracias dos movimentos populistas e autoritários que as capturaram
subvertendo as redes sociais. Uma é um projeto de lei da União Europeia. Outra,
a ideia de um trio de acadêmicos puxados pelo cientista político Francis
Fukuyama. E ambas podem funcionar juntas, se completam.
Os detalhes da nova legislação europeia iam ser divulgados na terça-feira, durante uma teleconferência em que as grandes companhias do Vale do Silício estariam representadas. A conversa foi adiada para a quarta que vem. De qualquer forma, o DSA — ou Ato dos Serviços Digitais na sigla em inglês — será apresentado também na semana que vem ao Parlamento Europeu. A partir daí, ao longo de 2021, os países membros da UE deverão ratificar o texto um por um. Então vira lei no mercado comum.
Em
essência, os princípios são simples. Quando o Facebook apresentar ao usuário um
post, deverá ter um botãozinho que explique por que aquele e não outro foi
selecionado. Vale também para publicidade. E toda propaganda precisa ter
explícito quem pagou por sua veiculação.
Em
essência, os algoritmos precisam ser transparentes. É fundamental que as
pessoas compreendam: as redes sociais, os sites de vídeo, os mecanismos de
busca estão escolhendo o que nos apresentam. Pois precisarão explicar por quê.
Vale para as grandes: Facebook, Google, Amazon — as líderes de mercado.
A
nova legislação também exigirá que as companhias compartilhem os dados com
reguladores em determinadas situações. Assim como pode, noutras, exigir que
dados sejam compartilhados com concorrentes para não criar vantagens indevidas.
As
gigantes digitais apresentam um dilema novo no debate sobre monopólios. Um dos
problemas é que por um fenômeno chamado Efeito de Rede, no digital empresas
tendem ao monopólio. Quanto mais gente usa uma rede social, mais aquela rede é
útil. Quanto mais vídeos há num site, melhor ele é. Mas quando a conversa sobre
política se concentra nestes ambientes e o que chega a nós é escolhido pelos
algoritmos escritos pelas gigantes do Vale, elas terminam com poder demasiado.
Assim
como, descobrimos, suas plataformas podem ser sequestradas por populistas que
burlam os sistemas.
A
proposta da União Europeia é tornar obrigatório explicar como os algoritmos
escolhem a informação que chega a nós. A de Francis Fukuyama e do cientista da
computação Ashish Goel, ambos de Stanford, que se reuniram com o economista
especializado em antitruste Barak Richman, de Duke, vai em paralelo:
middleware.
Ou,
ao invés de as gigantes fornecerem o algoritmo, vamos tercerizá-los.
Continuamos
usando Facebook, Twitter, YouTube. Mas poderemos escolher outras empresas que
fornecem algoritmos de seleção do conteúdo que preferimos. Estes filtros
escritos por terceiros podem literalmente escolher o que aparece. Ou serviriam
para etiquetar o que é informação falsa, controversa, que falta contexto.
De
acordo com a ideia da proposta do trio puxado por Fukuyama, em um artigo
publicado na revista Foreign Affairs, estes terceiros seriam obrigados a manter
total transparência a respeito de seus critérios editoriais e técnicos.
As duas propostas, a europeia e a dos professores, podem funcionar separadamente ou em conjunto. Em comum têm o fato de serem originais. Além de atentarem para o problema imenso que temos em garantir a proteção da democracia com um ambiente de informação no qual as pessoas voltem a ter voz a respeito do que recebem.
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