Eleitor de mais de 60 é cada vez mais relevante e vota à direita; jovens são inconstantes
Em
São Paulo, a disputa principal foi sempre entre esquerda e direita desde que a
cidade voltou a eleger seu prefeito, em 1988. O voto dos mais velhos é sempre
marcadamente mais direitista. Mas em poucas vezes a maioria dos mais jovens
votou na esquerda; em poucas vezes o voto dos idosos teve um peso tão decisivo
quanto deve ter no segundo turno deste ano, entre Bruno Covas (PSDB) e
Guilherme Boulos (PSOL).
É
entre os eleitores de 60 anos ou mais que Covas abre sua maior vantagem sobre
Boulos, consideradas as categorias maiores e mais tradicionais em que as
pesquisas dividem o eleitorado (sexo, idade, renda, instrução) e com dados
comparáveis com os levantamentos mais antigos.
Na pesquisa Datafolha mais recente, de 24 e 25 de novembro, Boulos vence Covas entre os eleitores de 16 até 44 anos; entre o eleitorado de 16 até 59 anos, empatam. Entre aqueles de 60 anos ou mais, o tucano vence de longe, por 61% a 28% (ou 68% a 32%, nos votos válidos).
Além
da diferença percentual grande, a diferença absoluta é importante. A população
paulistana envelhece. No Censo de 1991, os paulistanos com 60 anos ou mais eram
11,6% do total da população com mais de 16 anos (agora apta a votar). Em 2010,
eram 15,3%. Em 2019, eram 21,7%.
Há,
claro, outras maneiras de entender as vantagens
que Covas tinha sobre Boulos no início da semana. O tucano vence entre os
que fizeram até o ensino fundamental (57% a 31% nos votos totais) e entre os
mais pobres. Na conta total dos votos, porém, essas diferenças são inferiores
àquela que Covas obtém entre os “idosos”.
A
esquerda ganhou a eleição paulistana com folga ou endureceu o jogo quando ao
menos dividiu com a direita os votos de mais pobres e menos escolarizados, é
fácil de entender. Boulos disputa palmo a palmo o povo de renda mais baixa. Mas
fica longe entre quem passou poucos anos na escola. Os mais jovens de qualquer
classe não vão resolver o problema eleitoral do psolista, pois.
De
1988 até 2000, petistas enfrentaram os malufistas. De 2004 a 2016, foi o tempo
de petistas vs. tucanos e agregados. Agora,
é PSDB contra PSOL.
Houve
tempo em que os malufistas venceram em todas as categorias relevantes, entre os
mais jovens e os mais pobres inclusive, como quando Celso Pitta (PPB) bateu
Luiza Erundina (PT), em 1996, ou na pesquisa de uma hipotética disputa final
entre João Doria (PSDB) e Fernando Haddad (PT), em 2016, quando Doria levou no
primeiro turno.
Os
mais jovens estavam divididos quase igualmente entre o vitorioso Paulo Maluf
(PDS) e Eduardo Suplicy (PT) em 1992, entre o vencedor, José Serra (PSDB), e
Marta Suplicy (PT), em 2004, e entre o eleito Gilberto Kassab (DEM) e Marta, em
2008.
Os
jovens votaram na esquerda mesmo apenas quando Marta ganhou em 2000 e Haddad em
2012. Na verdade, nessas eleições os petistas ganharam em quase todas as
categorias, exceto entre os “idosos” (e, em Haddad vs. Serra, exceto entre os
mais ricos).
Na
eleição em que Erundina bateu Maluf, em 1988, as pesquisas de véspera davam
quase empate entre os mais jovens. Mas não se sabe bem o que se passou.
Erundina, agora vice de Boulos, virou a eleição nos últimos dias e não havia
segundo turno.
Em suma, o peso crescente do “idosos” e sua preferência regular e marcada de votar à direita fazem desse eleitorado força decisiva especial. Note-se ainda que não conseguir falar com muitos dos eleitores que passaram menos anos na escola e sempre confundi-los com os mais pobres é outro problema para a esquerda.
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