Ano teve competidores nacionais excelentes; lista não tem estrangeiros
Minha
lista anual nunca incluiu reedições de clássicos, mas
a coletânea “Por um Feminismo Afro-latino-americano”, que reúne
textos da historiadora e filósofa negra Lélia
Gonzalez editados por Flávia Rios e Márcia Lima, tem que ser
citada porque grande parte do público ainda não sabe que a autora é clássica.
“Raça
e Eleições no Brasil”, de Luiz Augusto Campos e Carlos Machado, é um trabalho
muito inteligente de ciência política sobre as dificuldades de inserção dos
negros no sistema eleitoral brasileiro, um
tema cada vez mais quente.
“Mãe
Pátria”, de Paula Ramón, é um belo relato, em tom pessoal, sobre a
tragédia venezuelana recente. Não é antiesquerdismo, é só uma história real que
a esquerda deveria levar a sério.
“A Bailarina da Morte”, de Lilia Schwarcz e Heloisa Starling, fala da pandemia de gripe espanhola do início do século 20 e sugere semelhanças assustadoras com a tragédia brasileira atual. Tive a impressão, entretanto, que mesmo as autoridades incompetentes da República Velha teriam comprado vacina para os brasileiros, se ela existisse na época.
Por
algum motivo inexplicável, desde 2018 cresceu o interesse dos autores
brasileiros pela história do Integralismo, a versão brasileira do fascismo nos
anos 30. “Fascismo
à Brasileira”, de Pedro Doria, conta a história do movimento com foco
na trajetória de seu fundador, Plínio Salgado. “O
Fascismo em Camisas Verdes”, de Leandro Pereira Gonçalves e Odilon Caldeira
Neto, se destaca pela história da apropriação do legado dos
integralistas até o dia de hoje.
“A
República das Milícias”, de Bruno Paes Manso, é o estudo mais amplo e
detalhado já publicado sobre essa forma de domínio territorial criminoso e suas
ramificações políticas.
Mudando
completamente de assunto, “O
Brasil Dobrou à Direita”, de Jairo Nicolau, analisa detalhadamente
dados sobre a eleição presidencial de 2018.
“A
Máquina do Ódio”, de Patrícia Campos Mello, é o primeiro grande
registro histórico da ofensiva autoritária pós-2018, lá onde ela já está avançada:
na guerra à imprensa livre, realizada por campanhas de ódio e tentativas de
estrangulamento financeiro.
“Ponto-final”,
de Marcos Nobre, é uma análise do Bolsonarismo na pandemia,
escrita “à quente”, no meio do ano. O argumento sobreviveu bem aos meses
seguintes.
“As
Políticas da Política”, organizado por Marta Arretche, Eduardo Marques e Carlos
Aurélio Pimenta de Faria, reúne estudos que comparam políticas públicas
dos governos tucanos e petistas. O livro gerou bons debates e, em 2020, deu
saudade de dois momentos em que o Brasil teve governo.
“The
Volatility Curse” (“A Maldição da Volatilidade”), de Daniela Campello e Cesar
Zucco, mostrou como os resultados eleitorais brasileiros são correlacionados
com os ciclos e choques da economia internacional e como isso pode prejudicar a
capacidade dos eleitores avaliarem bem os governantes.
Em
um ano de competidores nacionais excelentes, a ponto de não haver nenhum
estrangeiro na lista, o
melhor livro de política foi “A Organização”, de Malu Gaspar, que
conta a história política da empreiteira Odebrecht. Um estudo de caso detalhado
e, às vezes, chocante, sobre economia política brasileira, corrupção e os
desafios da reforma de nossa democracia.
*Celso Rocha de Barros, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra)
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