Aqui está um livro
Um
livro de gravuras coloridas;
Há
um ponto-furo. Um simples ponto
simples furo
E
nada mais.
Abro
a capa do livro e
Vejo
por trás da mesma que o furo continua;
Folheio
as páginas, uma a uma.
-
Vou passando as folhas, devagar,
o
furo continua
Noto
que, de repente, o furo vai se alargando
Se
abrindo, florindo, emprenhando,
Compondo
um volume vazio, irregular, interior e conexo:
Superpostas
aberturas recortadas nas folhas do livro,
Têm
a forma rara de uma escultura vazia e fechada,
Uma
variedade, uma escultura guardada dentro de um livro,
Escultura
de nada: ou antes, de um pseudo-não;
Fechada,
escondida, para todos os que não quiserem
Folhear
o livro.
Mas,
prossigo desfolhando:
Agora
a forma vai de novo se estreitando
Se
afunilando, se reduzindo, desaparecendo/surgindo
E
na capa do outro lado se tornando
novamente
Um
ponto-furo, um simples ponto
simples furo
E
nada mais.
Os
seres que a construíram, simples formigas aladas,
Evoluíam
sob o sol de uma lâmpada
Onde
perderam as asas. Caíram.
As
linhas de vôo, incertas e belas, aluíram;
Mas
essas linhas volantes, a princípio, foram
se
reproduzindo nas folhas do livro, compondo desenhos
De
fazer inveja aos mais “ sábios artistas”.
Circunvagueando,
indecisas nas primeiras páginas,
À
procura da forma formante e formada.
Seus
vôos transcritos, “refletidos” nessas primeiras linhas,
Enfim
se aprofundam, se avolumam no vazio
De
uma escultura escondida, no escuro do interno;
Somente
visível, “de fora”, por dois pontos;
Dois
pontos furos: simples pontos
simples furos
E
nada mais.
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