Às
Forças Armadas, o presidente fomenta a indisciplina dos
oficiais com a intenção de ter apoio para uma aventura golpista
Jair Bolsonaro encerra politicamente o terrível ano de 2020 da mesma forma como iniciou. Conspirando diuturnamente contra o Estado Democrático de Direito. Se a prisão, em junho, de Fabrício Queiroz, interrompeu a marcha golpista, nos últimos dias de dezembro, Bolsonaro voltou à carga. Atacou a imprensa, ameaçou jornalistas, desqualificou a importância da informação livre e responsável, caluniou ministros do STF — como na sua live do dia 17, quando afirmou que o ex-ministro Celso de Mello é defensor da poligamia —, caluniou o deputado Rodrigo Maia imputando a ele uma suposta ação contra o décimo-terceiro pagamento do Bolsa-Família — acabou sendo desmentido não só pelo próprio presidente da Câmara dos Deputados, como também pelo ministro da Economia Paulo Guedes.
As
agressões sistemáticas às instituições geralmente ocorreram em atos públicos —
excetuando as lives, obviamente — onde encontrou plateias amestradas, inclusive
em próprios da União, especialmente das Forças Armadas. Há uma clara estratégia
de, ao mesmo tempo em que solapa os princípios da Constituição de 1988, buscar
sempre um lócus adequado de onde pronuncia seus vitupérios. A escolha recai
geralmente nas cerimônias das Forças Armadas. Lá fomenta a indisciplina dos
oficiais e busca aparentar que detém apoio para uma aventura golpista. Já com
os policiais militares insinua que podem se transformar em milícias auxiliares
do seu projeto autoritário. Um exemplo: o violento ataque à imprensa e às
instituições na cerimônia de formatura de soldados da PM fluminense, em 18 de
dezembro.
Diferentemente dos atos antidemocráticos que promoveu no primeiro semestre — e que estão sendo investigados no STF —, desta vez há um agravante: não há como esconder o avanço da Covid-19, seus efeitos — mais de sete milhões de infectados e 190 mil óbitos —, a irresponsável conspiração contra a vacinação, isto em um cenário que aponta um rápido avanço da pandemia. Tudo caminha para uma confluência de crises: a institucional, a sanitária e a econômica. É uma tragédia anunciada. Bolsonaro necessita, para sobreviver politicamente e esconder o desastre do seu governo, confrontar e ameaçar as instituições, apontando até, no limite, para um golpe. A pandemia tende a ficar incontrolável no primeiro trimestre do próximo ano. E a economia caminha para uma recuperação tímida, muito abaixo do que seria necessário frente ao tombo de 2020. É o cenário perfeito para a explosão de uma crise social. Quem viver verá.
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