Vacinações
são por excelência uma estratégia coletiva de saúde
A
vacinação só será capaz de pôr fim à epidemia se estiver no âmbito de um
programa universal e público. E, se a circulação do vírus permanecer muito
elevada, nem quem tem dinheiro para pagar por um imunizante estará livre de
riscos. Vacinações são por excelência uma estratégia coletiva de saúde.
Isso
dito, não vejo problemas em permitir que clínicas particulares importem e
apliquem vacinas contra a Covid-19. A rigor, qualquer agente que consiga trazer
para o Brasil biofármacos que de outra forma não chegariam aqui está
contribuindo para o esforço comum.
É preciso, contudo, alguns cuidados. Seria decerto um despropósito se a iniciativa privada e o setor público entrassem numa disputa suicida pelos mesmos imunizantes. Mas há fórmulas menos drásticas que o veto às clínicas particulares para evitar esse tipo de situação.
Uma
objeção que merece consideração é a de que a participação privada, ao criar
oportunidades diferenciadas de acesso à vacina com base em renda, corrompe o
caráter público da fila e o princípio do acesso igualitário. Não vejo como
discordar, mas receio que o argumento seja forte demais. Parece-me complicado
usá-lo para vacinas, mas deixá-lo de lado para todo o resto.
Nós,
afinal, não adotamos a fila única para leitos de UTI em hospitais públicos e
privados. E não é só na pandemia. Há décadas aceitamos que pacientes de câncer
do SUS morram à espera de vagas para tratamento, enquanto elas sobram na rede
particular. A aplicação consistente do princípio da igualdade de acesso
implicaria uma espécie de veto à medicina privada, o que não ocorre em nenhum
país democrático.
O fato de eu não ver com maus olhos a participação de clínicas particulares na vacinação não significa que ela seja solução. Só voltaremos a algum tipo de normalidade depois que a maioria dos brasileiros tiver recebido sua vacina —e apenas o poder público é capaz de fazer isso.
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