Bolsonaro
não sabe o que fazer em meio à pandemia do novo coronavírus, pois nem crise
sanitária nem recessão se resolvem com negacionismo, mas com ações
governamentais
“O
Brasil está quebrado. Não consigo fazer nada” — disse, com todas as letras, o
presidente Jair Bolsonaro, ontem, queixando-se da situação em que se encontra o
governo federal. Para não variar, culpou a imprensa e se fez de vítima, mas o
estrago está feito. Além de terem virado piada pronta nas redes sociais e
motivo de chacota nos meios políticos, suas palavras são um desastre para a
economia. O impacto de uma afirmação dessa natureza junto aos agentes
econômicos e investidores estrangeiros pode ser avassalador.
Poderiam ser ditas por qualquer empreendedor em dificuldades financeiras ou trabalhador desempregado, porém, na boca do presidente da República, essas afirmações funcionam como uma mensagem de desesperança. Revelam que Bolsonaro não sabe o que fazer em meio à pandemia do novo coronavírus, pois nem crise sanitária nem recessão se resolvem com negacionismo, mas com ações governamentais. Não chega a ser uma novidade, porque o presidente da República sempre disse que não entende de economia e que, nesse métier, quem daria as cartas seria o ministro da Economia.
Entretanto,
o Ministério da Economia passou recibo de que não tem dinheiro em caixa. O
governo brasileiro não honrou o pagamento da penúltima parcela de US$ 292 milhões
para o aporte de capital no Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), a instituição
financeira criada pelos cinco países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul). O prazo para a quitação da parcela terminou no último dia 3.
Agora, o Brasil está inadimplente com o banco que ajudou a fundar e é um dos
acionistas.
Por
incompetência do Palácio do Planalto, o dinheiro para o pagamento da parcela da
dívida com o Banco do Brics e outros compromissos com os bancos multilaterais
ficou fora do projeto de lei que foi votado no fim do ano para remanejar
despesas do Orçamento de 2020 e atender a demandas de obras de interesse do
governo e emendas de parlamentares aliados. É um vexame: ficamos inadimplentes
justamente no ano em que o brasileiro Marcos Troyjo assumiu a presidência da
instituição por indicação do governo Bolsonaro, com US$ 3,5 bilhões em
financiamentos aprovados para o Brasil, em 2020.
Não
à toa, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), subiu nas tamancas ontem.
O Ministério da Fazenda tentou responsabilizar o Congresso, mas foi a própria
base do governo que manobrou para que não houvesse convocação extraordinária
durante o recesso parlamentar. A prioridade do Palácio do Planalto é a disputa
pelo controle das Mesas da Câmara e do Senado e, para os candidatos
governistas, reunir o Congresso daria palanque para a oposição.
Mesmo
assim, Bolsonaro se faz de vítima: “Queria mexer na tabela de Imposto de Renda.
Esse vírus potencializado pela mídia que nós temos, essa mídia sem caráter que
nós temos. É um trabalho incessante de tentar desgastar para retirar a gente
daqui para voltar alguém para atender os interesses escusos da mídia”, disse.
Assim, o presidente passou recibo de que não está fazendo as entregas que
deveria, depois de dois anos de mandato.
Talvez
por isso tenha sido organizada a sua “visita técnica” ao Ministério da Saúde,
que durou quase duas horas. Segundo o ministro Eduardo Pazuello, Bolsonaro se
inteirou das providências que estão sendo tomadas para comprar vacinas, agulhas
e seringas para a campanha de vacinação contra a covid-19. O presidente da
República saiu da reunião sem dar entrevistas. Moral da história: continuamos
sem saber quando começará a campanha de vacinação.
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