Um presidente da República não deveria sair alardeando por aí que o país
que ele mesmo governa está quebrado. Muito menos para servir de
justificativa para o fato de não ter cumprido uma promessa de campanha sempre
cobrada pelos seus apoiadores: aumentar o limite da faixa de isenção do Imposto de
Renda da Pessoa Física (IRPF).
Saiu-se
logo com a resposta mais fácil: o Brasil quebrou. Mas a verdade é que o
presidente não mexeu uma palha para abrir espaço para corrigir a tabela do
IRPF. Pelo contrário, beneficiou setores específicos nesses dois anos de
governo e atropelou a discussão de mudanças no campo tributário por disputas
políticas. Também não ajudou na pauta de corte de gastos ineficientes.
O
que vão achar os investidores que compram papéis de um governo do qual o seu
próprio presidente diz que está quebrado? É natural que comecem a cobrar cada
vez mais para comprar os títulos da dívida brasileira.
Ou seja, pode custar mais dinheiro para os contribuintes que o presidente promete ajudar com a correção da tabela do IRPF.
A
fala do presidente é irresponsável sob todos os aspectos. Mas é ainda mais
perigosa no momento atual em que o Tesouro
Nacional passou por meses de grande dificuldade para se
financiar e tem pela frente um trabalho difícil para pagar uma montanha de
dívida concentrada nos primeiros meses do ano e que já supera R$ 1,3 trilhão
até o final de 2021.
A
declaração é ainda mais inoportuna depois da revelação pelo Estadão de
que o Brasil não honrou o pagamento da penúltima parcela de US$ 292
milhões para o aporte de capital no Novo Banco de Desenvolvimento (NDB),
a instituição financeira criada pelos cinco países do Brics (Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul).
O
prazo para a quitação da parcela terminou no último dia 3 de janeiro e o Brasil
agora está inadimplente com o banco que ajudou a fundar e é um dos acionistas.
A
equipe econômica não quer nem que se fale em calote com temor do estrago.
Prefere dizer que é um atraso. No dicionário, porém, a definição de calote é:
dívida não paga.
O
sinal é ruim. Outros organismos multilaterais também não receberam, mas não há
transparência nenhuma do Ministério da
Economia para explicar o que aconteceu, qual o tamanho da
dívida e a razão de ela não ter sido paga.
Depois da fala do presidente nesta terça-feira, 5, é melhor a equipe econômica agir rápido, fazer uma declaração oficial para afastar a desconfiança.
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