No
ano de 2021 o Brasil pode crescer sem crescer, e a principal variável da
economia não será econômica. Mesmo se a economia ficar estagnada, haverá um
número positivo na comparação da média contra a média do ano passado, em que
houve uma queda forte no segundo trimestre. O que definirá a chance de alta
real do PIB — e não apenas uma ilusão estatística — será a vacinação em massa
dos brasileiros. O erros do governo na preparação para a vacina são falhas
também econômicas.
O
falso dilema que Bolsonaro alimentou no ano passado é um bumerangue que se
volta contra seu próprio governo. Ele defendeu a tese de que era preciso manter
a economia funcionando normalmente para garantir emprego e atividade. Não
trabalhou para garantir a volta sustentada da economia. Este ano o choque entre
a sua ideia e a realidade estará mais evidente, porque o atraso na vacina é o
maior obstáculo para a recuperação econômica.
O país está vergonhosamente atrasado na vacinação. O fiasco do leilão de seringas feito pelo Ministerio da Saude foi sinal da sua incapacidade de gestão. As providências elementares para um programa de imunização não foram tomadas. Estados e prefeituras já se adiantam e compram seringas, agulhas e vacinas, enquanto o governo federal roda em falso.
O
ano está começando com uma série de complicadores. A inflação está alta, o
desemprego vai subir nos primeiros meses de 2021, as contas públicas estão num
beco sem saída. O nó mais recente foi dado pelo aumento do salário mínimo.
Houve um descasamento infeliz. O teto de gastos sobe pelo índice em 12 meses
até junho, os benefícios previdenciários são corrigidos conforme a inflação do
ano. Ocorre que a inflação acelerou no segundo trimestre. E isso pode custar,
segundo o economista Fábio Giambiagi, R$ 15 bilhões a mais. Não por causa do
salário mínimo, mas porque todos os outros benefícios, inclusive os mais altos,
serão reajustados pelo INPC.
Esse
é só um exemplo de nó nas contas públicas que 2021 herda de 2020. A sanção da
LDO veio no último momento possível. A incerteza fiscal e as confusões do
próprio governo explicam parte da alta do dólar. O real foi uma das moedas que
mais perdeu valor.
O
ano começa com o país prisioneiro de impasses criados pelo próprio governo.
Mesmo quando todos os sinais eram os de início de uma segunda onda, a área
econômica preferiu apostar em alguns indicadores setoriais de melhora de
consumo, ou na queda do distanciamento social para montar o cenário de que a
economia estava voltando ao normal. Não há normalidade à vista, e agora o país
está sem instrumentos para enfrentar a nova etapa da mesma crise.
O
que se diz no Ministério da Economia é que existe um plano, ele será implantado
em fases, as primeiras sem custo fiscal. A estratégia será a de melhorar o
conjunto de medidas já tomadas, corrigindo os excessos. E houve muito gasto
excessivo no ano passado, como, por exemplo, no auxílio emergencial sem foco e
distribuído sem controle.
O
começo do ano será marcado pelo agravamento da crise sanitária, pelo impasse da
vacinação, e pela incerteza fiscal. Para as famílias, haverá mais inflação.
Sobem alguns itens importantes como energia, planos de saúde, remédios, ônibus.
A taxa de desemprego cresce sempre no começo do ano e pode chegar a 17%.
A
vacinação é a variável que poderá virar esse jogo no segundo semestre. E isso é
tão sério que não deveria estar entregue às vacilações do Ministério da Saúde.
Enquanto o Ministério da Economia não entender que a economia não será definida
por pequenos pequenos detalhes dos indicadores econômicos, mas sim pelo grande
cenário da saúde, o país ficará onde está.
O ano está só começando, e o PIB pode ter realmente uma recuperação, mas, para ir além de uma alta meramente estatística, o governo tem que ter um programa crível para lidar com a crise fiscal e ao mesmo tempo saber que estímulos dar à economia. Mesmo antes da pandemia, a agenda econômica da atual equipe tinha sido sabotada pelo presidente da República. A pandemia elevou todos os riscos. Em 2021, a única possibilidade de sucesso depende de que o governo, como um todo, entenda que não há escolha possível entre economia e saúde. A saúde é hoje a maior questão econômica.
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