Presidente
e ministro da saúde deixaram o tempo correr por decisão
O
contraste entre a dedicação corajosa do pessoal
da saúde e a sabotagem da turma de Bolsonaro à imunização geral
reflete, e denuncia, a falta de caráter coletivo das classes e categorias que
dominam o Brasil.
O
alheamento dessa porção poderosa, historicamente ativa na fermentação dos
golpes de Estado e, com menor necessidade, contra reduções das desigualdades,
oferece o alicerce para uma traição que passa de presumida a demonstrada.
O caso
das seringas é eloquente. Há mais de oito meses, ainda com
Henrique Mandetta como ministro, a compra de seringas e agulhas estava em
questão, inclusive com referência ao Ministério da Economia sobre verbas.
A imobilidade do governo só se rompeu há duas semanas, com um pregão em que o Ministério militar da Saúde fixou e exigiu preços abaixo dos vigentes. Só conseguiu comprar 24 em cada 1.000 seringas que dizia querer.
Por
mais retardadas que sejam as mentes de Bolsonaro e do general Pazuello, é
impossível admitir que levassem tanto tempo para perceber necessidade assim
óbvia e, apesar disso, tão advertida a ambos. Nada os moveu. Além de entupidos
nos canais da inteligência e da audição, estavam cegos para a ação do mundo
todo.
Bolsonaro, Pazuello e
os militares do Exército ao redor de ambos deixaram o tempo correr por decisão.
Foi recusa deliberada de adotar as providências simples como nas vacinações em
que o Brasil e o SUS se tornaram exemplo planetário.
Nada,
absolutamente nada pode explicar que Bolsonaro e Pazuello deixem a população
desguarnecida de vacinas e seringas, a não ser a decisão de fazê-lo.
Dupla
traição: aos deveres constitucionais das respectivas funções e à população.
Logo, ao próprio país, pelas consequências sociais discriminatórias, econômicas
e nas relações políticas/comerciais com o exterior.
Outros
sinais indicam a permanência da decisão de protelar a compra
de vacinas e seringas, por sucessivas trapaças, até onde isso seja
possível.
Há
pouco, Bolsonaro confirmou que “não dá bola” para a falta de imunizadores nem
para o vergonhoso atraso brasileiro. A responsabilidade, na sua explicação, é
dos “laboratórios que tinham que estar interessados em vender pra gente. Os
vendedores é que tinham que vir atrás”.
Para
comprar cloroquina, Bolsonaro
em pessoa é que foi atrás de Trump e do indiano Modi.
A
explicação imbeciloide recebeu seguimento do coronel Elcio Franco,
secretário-executivo do Ministério militar da Saúde. Segundo ele, não
houve autorização da Anvisa nem compra de vacina porque não pode “pegar a
Pfizer pelo braço” para negociar.
As
duas explicações, como de praxe, são falsas. A verdade é que o representante
da Pfizer se apresentou no ministério, em tempo hábil para o
fornecimento prioritário. Tomou chás de cadeira memoráveis.
E
não conseguiu ser recebido pelo general Pazuello. Com justa irritação, em
poucas palavras falou a repórteres do seu insucesso. Pazuello e seus camaradas
não queriam saber de compra
de vacina.
Para
quem se iniciou como terrorista contra quartéis do Exército e, como Pazuello,
diz que outro manda e ele obedece, ordem de sabotagem e traição são naturais.
Tanto que recebem a complacência, ou cumplicidade, do segmento social com poder
de influência.
O
Bolsonaro que acumula mortes, por exemplo, tem o aplauso de 58% do empresariado
—os graúdos.
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