Folha de S. Paulo
Presidente usa caneta para tirar espaço de
Lula em segmento que deve definir eleição em 2022
No meio da semana, Jair Bolsonaro anunciou
um aumento
de 50% no valor do Bolsa Família. Dias depois, ele se reuniu com donos de
supermercados e pediu que eles segurassem os preços dos produtos da cesta
básica. Os dois movimentos mostram que o presidente enxerga sua sobrevivência
política nas mãos da população mais pobre.
Bolsonaro tenta conter um desgaste que pode custar sua reeleição. Em 2018, ele recebeu um impulso inicial dos brasileiros mais ricos, mas só conseguiu chegar ao Planalto porque conquistou espaço em outras faixas. Números do Datafolha indicam que um de cada quatro votos que ele teve no primeiro turno veio do segmento renda mais baixa.
A relação do governo com esses eleitores
anda mal. A crise econômica penalizou principalmente os brasileiros mais
pobres, o auxílio emergencial encolheu, e os efeitos da retomada demoram a
chegar. O desemprego está nas alturas e a inflação para os mais pobres se
aproxima dos 9%, segundo o Ipea.
A disputa pelos votos desse grupo deve
definir a eleição. Na pandemia, Bolsonaro perdeu
apoio nos andares mais altos da pirâmide de renda, mas tem a
expectativa de reativar o antipetismo dessas camadas e recuperar seus votos num
provável segundo turno contra Lula. Entre os mais pobres, no entanto, essa
ferramenta tende a ser menos eficaz.
Lula mantém uma fortaleza política nesses
segmentos. Numa disputa direta com Bolsonaro, as pesquisas mostram que o
petista venceria por 68% a 32% nos votos válidos dos brasileiros de baixa
renda. Se a rejeição ao presidente se cristalizar nessa faixa numerosa, será
quase impossível evitar uma derrota.
O objetivo de Bolsonaro não será bater Lula
na baixa renda, mas evitar uma lavada. O presidente já decidiu usar a caneta e
aumentar os gastos para se reabilitar nessa faixa. A tarefa será especialmente
difícil para um governo cujo ministro da Economia diz que a classe média
exagera no prato de comida e sugere que as
sobras podem alimentar os pobres.
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