Blog do Noblat / Metrópoles
O vírus do bolsonarismo despertou os
instintos mais primitivos dos brasileiros e não há sinais de que haverá vacina
contra ele
País onde padre chama homossexuais de
veadinhos, rapaz vai às compras com uma suástica no antebraço, senador defende
governo fascista desde que tenha “as mãos limpas” e casal branco suspeita de
negro inocente no comando de uma bicicleta elétrica, por que um país como esse
daria as costas ao presidente que tem?
Não será fácil derrotá-lo na eleição do ano
que vem, é o que começam a admitir aos sussurros ou abertamente seus mais
ferrenhos adversários. Não é para dissipar o clima do já ganhou que toma conta
da parte desavisada da oposição que eles dizem isso, é porque de fato
reconhecem que não será fácil mesmo.
O bolsonarismo era um vírus adormecido nas
entranhas de uma parcela expressiva dos brasileiros de todas as classes sociais
e de todos os pontos do país. O vírus despertou ao ouvir o discurso do
ex-capitão indisciplinado que antes só falava às paredes do Congresso e a áreas
do Estado que o alimentava com votos.
A rendição à pandemia que veio de fora pode ter enfraquecido o dono do discurso que perdeu apoio com a morte de quase 500 mil pessoas em pouco mais de um ano, sem falar dos mais de 17 milhões de infectados. Mas o discurso em si continua forte, sem que tenha diminuído o número dos que se sentem atraídos por ele.
À medida que a eleição se aproxima, embora
ainda falte um ano e quatro meses para a abertura das urnas, revela-se o
tamanho do estrago provocado pelo vírus do bolsonarismo. Nenhum partido está
imune aos seus efeitos malignos, nenhuma instituição, nenhum credo, nenhum
segmento social ou econômico.
Vírus não morre. A maioria aparece e volta
às matas de onde saiu, como o Ebola, por exemplo. Contra alguns, descobrem-se
vacinas capazes de erradicá-los para sempre. Mas, devido à falta de cuidados,
nada impede seu retorno. A história é feita de ciclos, e está provado que eles
demoram a se esgotar.
O futuro da democracia brasileira estará em
jogo em 2022. E ele nunca pareceu tão incerto.
Ministro Paulo Guedes sugere dar sobras de
comida aos mais pobres
Guedes perdeu mais uma oportunidade de
ficar calado. Ele coleciona frases polêmicas e depois joga a culpa nos outros
Paulo Guedes, ministro da Economia, deveria
ou não ir outra vez para o paredão depois do que disse a respeito de oferecer
aos brasileiros pobres sobras de comida das mesas dos ricos e de restaurantes?
Ao participar de um fórum da Associação
Brasileira dos Supermercados, Guedes comparou o tamanho do prato de um
brasileiro de classe média ao de um europeu para ilustrar o problema do
desperdício de alimentos no país.
Uma alternativa que sugeriu foi a
distribuição das sobras de alimentos de restaurantes aos mais pobres e
vulneráveis.
“Você vê
um prato de um classe média europeu, que já enfrentou duas guerras mundiais,
são pratos relativamente pequenos. E os nossos aqui, nós fazemos o almoço onde
às vezes há uma sobra enorme, e isso vai até o final, que é a refeição da
classe média alta, até lá há excesso.”
E foi adiante, empolgado com a ideia:
“Com a alimentação que não foi utilizada
durante o dia no restaurante, dá para alimentar pessoas fragilizadas, mendigos,
desamparados. É melhor do que deixar estragar essa comida, que estraga diariamente
na mesa das classes mais altas brasileiras, e também o desperdício ao longo de
toda a cadeia produtiva”.
Seduzido pela própria voz, o ministro é
useiro e vezeiro em fazer declarações polêmicas que acabam se voltando contra
ele. Quando isso acontece, ele diz que foi mal interpretado, ou que tiraram
suas palavras do contexto, ou simplesmente culpa a imprensa.
Algumas coisas que ele já disse:
“O chinês inventou o vírus e a vacina dele é
menos efetiva que a do americano. O americano tem cem anos de investimento em
pesquisa. Então os caras falam: ‘qual o vírus? É esse? tá bom’. Decodifica, tá
aqui a vacina da Pfizer. É melhor do que as outras.” (27/4/2021)
“Se falarmos que vai ter mais três meses, mais
três meses, mais três meses [de auxílio emergencial], aí ninguém trabalha.
Ninguém sai de casa e o isolamento vai ser de oito anos porque a vida está boa,
está tudo tranquilo. E aí vamos morrer de fome do outro lado. É o meu pavor, a
prateleira vazia.” (20/5/2020)
“Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Vamos
importar menos, fazer substituição de importações, turismo. (Era) todo mundo
indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para a Disneylândia, uma
festa danada.” (12/2/2020)
O funcionalismo teve aumento de 50% acima da
inflação, além de ter estabilidade na carreira e aposentadoria generosa. O
hospedeiro está morrendo, o cara virou um parasita.” (7/2/2020)
“As pessoas destroem o meio ambiente porque
precisam comer. Você não tem um meio ambiente limpo porque as soluções não são
simples. São complexas.” (21/1/2020)
“Sejam responsáveis, pratiquem a democracia. Ou
democracia é só quando o seu lado ganha? Quando o outro lado ganha, com 10
meses você já chama todo mundo para quebrar a rua? Que responsabilidade é essa?
Não se assustem então se alguém pedir o AI-5.” (21/11/2019)
“Desde quando o Brasil, para crescer, precisou
da Argentina?” (15/8/2019)
“O Macron (presidente da França) falou que
estão colocando fogo na Amazônia. O presidente (Bolsonaro) devolveu, falou que
a mulher do Macron é feia. O presidente falou a verdade, ela é feia
mesmo.” (5/9/2019)
Guedes e Bolsonaro foram feitos um para o outro.
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