sexta-feira, 18 de junho de 2021

Ricardo Noblat - O destino da democracia é o que estará em jogo ano que vem

Blog do Noblat / Metrópoles

O vírus do bolsonarismo despertou os instintos mais primitivos dos brasileiros e não há sinais de que haverá vacina contra ele

País onde padre chama homossexuais de veadinhos, rapaz vai às compras com uma suástica no antebraço, senador defende governo fascista desde que tenha “as mãos limpas” e casal branco suspeita de negro inocente no comando de uma bicicleta elétrica, por que um país como esse daria as costas ao presidente que tem?

Não será fácil derrotá-lo na eleição do ano que vem, é o que começam a admitir aos sussurros ou abertamente seus mais ferrenhos adversários. Não é para dissipar o clima do já ganhou que toma conta da parte desavisada da oposição que eles dizem isso, é porque de fato reconhecem que não será fácil mesmo.

O bolsonarismo era um vírus adormecido nas entranhas de uma parcela expressiva dos brasileiros de todas as classes sociais e de todos os pontos do país. O vírus despertou ao ouvir o discurso do ex-capitão indisciplinado que antes só falava às paredes do Congresso e a áreas do Estado que o alimentava com votos.

A rendição à pandemia que veio de fora pode ter enfraquecido o dono do discurso que perdeu apoio com a morte de quase 500 mil pessoas em pouco mais de um ano, sem falar dos mais de 17 milhões de infectados. Mas o discurso em si continua forte, sem que tenha diminuído o número dos que se sentem atraídos por ele.

À medida que a eleição se aproxima, embora ainda falte um ano e quatro meses para a abertura das urnas, revela-se o tamanho do estrago provocado pelo vírus do bolsonarismo. Nenhum partido está imune aos seus efeitos malignos, nenhuma instituição, nenhum credo, nenhum segmento social ou econômico.

Vírus não morre. A maioria aparece e volta às matas de onde saiu, como o Ebola, por exemplo. Contra alguns, descobrem-se vacinas capazes de erradicá-los para sempre. Mas, devido à falta de cuidados, nada impede seu retorno. A história é feita de ciclos, e está provado que eles demoram a se esgotar.

O futuro da democracia brasileira estará em jogo em 2022. E ele nunca pareceu tão incerto.

Ministro Paulo Guedes sugere dar sobras de comida aos mais pobres

Guedes perdeu mais uma oportunidade de ficar calado. Ele coleciona frases polêmicas e depois joga a culpa nos outros

Paulo Guedes, ministro da Economia, deveria ou não ir outra vez para o paredão depois do que disse a respeito de oferecer aos brasileiros pobres sobras de comida das mesas dos ricos e de restaurantes?

Ao participar de um fórum da Associação Brasileira dos Supermercados, Guedes comparou o tamanho do prato de um brasileiro de classe média ao de um europeu para ilustrar o problema do desperdício de alimentos no país.

Uma alternativa que sugeriu foi a distribuição das sobras de alimentos de restaurantes aos mais pobres e vulneráveis.

 “Você vê um prato de um classe média europeu, que já enfrentou duas guerras mundiais, são pratos relativamente pequenos. E os nossos aqui, nós fazemos o almoço onde às vezes há uma sobra enorme, e isso vai até o final, que é a refeição da classe média alta, até lá há excesso.”

E foi adiante, empolgado com a ideia:

“Com a alimentação que não foi utilizada durante o dia no restaurante, dá para alimentar pessoas fragilizadas, mendigos, desamparados. É melhor do que deixar estragar essa comida, que estraga diariamente na mesa das classes mais altas brasileiras, e também o desperdício ao longo de toda a cadeia produtiva”.

Seduzido pela própria voz, o ministro é useiro e vezeiro em fazer declarações polêmicas que acabam se voltando contra ele. Quando isso acontece, ele diz que foi mal interpretado, ou que tiraram suas palavras do contexto, ou simplesmente culpa a imprensa.

Algumas coisas que ele já disse:

“O chinês inventou o vírus e a vacina dele é menos efetiva que a do americano. O americano tem cem anos de investimento em pesquisa. Então os caras falam: ‘qual o vírus? É esse? tá bom’. Decodifica, tá aqui a vacina da Pfizer. É melhor do que as outras.” (27/4/2021)

“Se falarmos que vai ter mais três meses, mais três meses, mais três meses [de auxílio emergencial], aí ninguém trabalha. Ninguém sai de casa e o isolamento vai ser de oito anos porque a vida está boa, está tudo tranquilo. E aí vamos morrer de fome do outro lado. É o meu pavor, a prateleira vazia.” (20/5/2020)

“Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Vamos importar menos, fazer substituição de importações, turismo. (Era) todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para a Disneylândia, uma festa danada.” (12/2/2020)

O funcionalismo teve aumento de 50% acima da inflação, além de ter estabilidade na carreira e aposentadoria generosa. O hospedeiro está morrendo, o cara virou um parasita.” (7/2/2020)

“As pessoas destroem o meio ambiente porque precisam comer. Você não tem um meio ambiente limpo porque as soluções não são simples. São complexas.” (21/1/2020)

“Sejam responsáveis, pratiquem a democracia. Ou democracia é só quando o seu lado ganha? Quando o outro lado ganha, com 10 meses você já chama todo mundo para quebrar a rua? Que responsabilidade é essa? Não se assustem então se alguém pedir o AI-5.” (21/11/2019)

“Desde quando o Brasil, para crescer, precisou da Argentina?” (15/8/2019)

“O Macron (presidente da França) falou que estão colocando fogo na Amazônia. O presidente (Bolsonaro) devolveu, falou que a mulher do Macron é feia. O presidente falou a verdade, ela é feia mesmo.” (5/9/2019)

Guedes e Bolsonaro foram feitos um para o outro.

Nenhum comentário: