Folha de S. Paulo
Quantos de seus eleitores não pegaram Covid
e ainda estão lutando contra as seqüelas da gripezinha?
No momento em que você estiver lendo este
texto, a Covid terá atingido perto de 18 milhões de brasileiros. Desses, quase
meio milhão já perderam a vida, e essa estatística está longe do fim. Mais de 1
milhão estão “em acompanhamento” —na fila por um leito, respirando por uma
máquina ou inconscientes numa UTI— e 16 milhões se recuperaram. Dos que
morreram ou estão lutando pela vida, só os seus médicos e familiares saberão
dizer. Mas, pelos relatórios dos sobreviventes, podemos calcular o que
representou para eles ter o inimigo dentro de si.
Imagino que mesmo para os assintomáticos houve certa apreensão ao serem informados de que o teste dera positivo. Quero crer que até os seguidores de Jair Bolsonaro entre eles terão acusado um susto —porque, ainda que convencidos de que a Covid era uma “gripezinha”, como adivinhar como ela se desenvolveria? Claro que, tratados com cloroquina, Coca-Cola e Gatorade, e tendo o vírus cedido espontaneamente, tais infectados se jactaram da eficácia de seu tratamento.
Não sei quantos deles estão entre os 18
milhões. Mas sei de muitas pessoas que não tiveram igual sorte e, com ou sem
recursos, ainda sofrem as consequências da doença. Ouço falar de graves
problemas pulmonares, cardíacos, renais, intestinais. De doenças autoimunes,
inflamações, colesterol alto, hipertensão. De joelhos e calcanhares inchados,
formigamento nas pernas, pés que não esquentam, dificuldade para reaprender a
andar. De ansiedade, depressão, angústia, enxaqueca, insônia, perda de paladar
e olfato. Alguns levarão para sempre a rouquidão, provocada pela intubação,
Entre os 18 milhões de “recuperados”,
muitos tiveram a vida pessoal, emocional e profissional destroçada. Eles também
talvez sejam alguns milhões. Bolsonaro os esbofeteia diariamente com sua
crueldade e seu deboche. Quantos não terão sido seus eleitores?
A ver se continuarão a ser.
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