Blog do Noblat / Metrópoles
Para pelo menos completar o mandato, o
presidente entrega os anéis, os dedos e o que mais for necessário
Fosse bem o governo, o presidente Jair
Bolsonaro não precisaria abrir a porta para a entrada do Centrão, o que ele
sempre negou que faria. Como o governo vai mal e o sonho da reeleição cada vez
mais distante, restou-lhe dar o dito pelo não dito.
Não foi o Centrão que meteu o pé na porta,
foi o presidente que lhe estendeu o tapete vermelho e pediu que entrasse. Nada
tem a ver com um lance de ocasião do tipo ceder os anéis e preservar os dedos.
Haverá de ceder os dedos e muito mais.
Consentido por Bolsonaro, o assalto do Centrão ao governo está só começando. Uns tantos quintos colunas ali já estavam instalados, mas perdiam de longe para os militares em matéria de influência. Em breve, o placar deste jogo será invertido.
A chefia da Casa Civil não é um cargo
qualquer, é o mais importante do governo depois do cargo de presidente. Foi por
isso que do México, onde ainda se encontra de férias, o senador Ciro Nogueira
(PP-PI) apressou-se a dizer sim ao convite para ocupá-lo.
Nogueira não é simplesmente um senador, é
presidente do seu partido, um dos maiores, e um dos líderes do Centrão. Em
2006, indicou a senadora Ana Amélia para vice de Geraldo Alckmin, candidato do
PSDB a presidente contra Dilma Rousseff (PT).
Antes da eleição, abandonou Alckmin, Ana
Amélia e apoiou Dilma. Ele e a mãe posaram para fotos com adesivos da campanha
de Dilma. Em vídeo gravado em 2017, chamou Bolsonaro de fascista e Lula de o
maior presidente da história do país.
Bolsonaro está sendo obrigado a explicar
aos seus devotos por que convidou para ser o seu segundo não só um nome do
Centrão como justamente o daquele que o tinha como má companhia. E tem
respondido que no passado disse coisas que hoje não repetiria.
Seria o caso de perguntar-lhe que coisas
foram essas que hoje não mais diria. E de perguntar a Nogueira por que há três
anos e meio ele considerava Bolsonaro um fascista. É de supor que não considere
mais. Foi Bolsonaro quem mudou ou foi Nogueira?
Os militares sempre serão o maior
contingente de quadros do governo Bolsonaro – algo entre 6 mil e 8 mil, da
reserva e da ativa, distribuídos por todos os escalões. Mas a entrada de
Nogueira os afetará, bem como a Paulo Guedes, ministro da Economia.
Sob o seu comando, Guedes reuniu meia dúzia
de antigos ministérios rebaixados à condição de secretarias. Acaba de perder
Trabalho e Previdência Social e corre o risco de perder o Planejamento. Por
mais que negue, está em declínio.
Em time que vence não se mexe. Bolsonaro
conformou-se em mexer no seu para não perder a última e decisiva batalha, a de
completar o mandato.
PP de Nogueira, chefe da Casa Civil, recusa
o passe de Bolsonaro
Além de ser um fardo pesado, o presidente
atrapalharia alianças do partido nos Estados
O convite para que Ciro Nogueira (PI) ocupe
a chefia da Casa Civil do governo está sendo celebrado por deputados federais e
senadores do Progressistas (PP), mas a possibilidade de que o presidente Jair
Bolsonaro se filie ao partido, não.
“Tentei e estou tentando um partido que eu
possa chamar de meu e possa, realmente, se for disputar a Presidência, ter o
domínio do partido. Está difícil, quase impossível”, disse, ontem, Bolsonaro em
uma entrevista à rádio Grande FM, de Mato Grosso do Sul.
Por ora, a resposta do PP ao presidente é:
“Aproxime-se para lá, me inclua fora dessa”. Foi a mesma resposta que lhe deram
o Patriotas e outras siglas. Há mais desvantagens do que vantagens em abrigar
Bolsonaro e toda a sua trupe, onde se incluem os filhos.
Vão querer mandar no partido onde entrarem,
e todos os partidos já têm donos. A empreitada de Bolsonaro para criar um
partido só dele fracassou. Ele ficou sem nenhum e não sabe qual será o seu
destino a 14 meses das eleições do ano que vem.
Além de donos, os partidos ambicionados por
Bolsonaro preferem não ter candidato próprio a presidente da República para se
dedicarem à eleição de deputados e senadores, e isso passa por alianças
diversas nos Estados, à direita e à esquerda.
O PT governa a Bahia junto com o PP. Bolsonaro admitiria que, ali, o PP apoiasse Lula ao invés dele? De Nogueira, tão logo assuma a Casa Civil, seus liderados esperam que os ajude a se reeleger, e não o contrário; e que os deixe sem amarras para isso.
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