O Globo
Braga Netto tem sotaque de golpista,
cacoete de golpista e é amigo e subordinado do golpista-mor da República. Só
por um milagre ele próprio não seria um golpista potencial
Pode não ser verdade, mas
é bem provável que seja. O episódio golpista que envolveu o general Braga
Netto, ministro da Defesa, tem traços genuínos e cheiro de verdade. Só o
“Estadão”, que publicou a matéria em que conta a ameaça às eleições feita pelo
general, pode garantir a veracidade da informação. E o jornal não só garantiu
como reafirmou sua convicção na correção da matéria. Todos os demais podem
afirmar que ela é bem provável, ou muito provável, ou mais do que provável. O
general tem sotaque de golpista, cacoete de golpista e é amigo e subordinado do
golpista-mor da República. Só por um milagre ele próprio não seria um golpista
potencial.
Braga Netto é também
subserviente ao presidente de maneira absoluta. Parece um cão de guarda, com a
diferença que o militar age por vezes por imitação. O cachorro só se manifesta
se ordenado pelo dono. A ameaça do general teria ocorrido depois de inúmeras
declarações de Bolsonaro no mesmo sentido. No dia 8 deste mês, o presidente
reafirmou que poderia não haver eleição se ela não fosse auditável (que na
linguagem golpista significa voto impresso). Bolsonaro falou no cercadinho do
Alvorada ao grupo de cegos apoiadores que aplaudem e riem de todas as suas
tolices. No mesmo dia, Braga teria mandado alguém avisar o presidente da Câmara
que se a eleição não for com voto impresso e auditável não haverá eleição em
2022. Alguma dúvida?
Um acinte. Um abuso. Uma violência típica de generaleco de republiqueta. Pode não ter ocorrido, mas Braga já deu outras demonstrações de seu afeto ao golpismo. Na posse do comandante do Exército, no dia seguinte à sua própria posse na Defesa, o general disse que as Forças Armadas estariam prontas para garantir a manutenção do projeto escolhido nas urnas pelos brasileiros. Seria o mesmo se dissesse que os militares não aceitariam um revés que ameaçasse o mandato de Bolsonaro, o presidente que cometeu mais de 30 crimes de responsabilidade pelos quais poderia ser legalmente afastado. Sob qualquer ângulo que se veja, aquela declaração só poderia ser feita por um general golpista, querendo entrar com o seu coturno pesado num jogo para o qual não foi convidado.
Mais adiante, há duas
semanas, publicou nota intimidando o presidente da CPI da Covid. Omar Aziz,
para quem não se lembra, disse que a banda podre das Forças Armadas envergonham
os bons militares. A nota, assinada por Braga e pelos comandantes militares,
afirmou que Exército, Marinha e Aeronáutica “não vão aceitar ataques levianos”.
Parecia querer dizer que militar ladrão não incomoda militar honesto, poderia
ter acrescentado “somos todos companheiros de farda”. Francamente. Braga Netto
terá que se entender ele mesmo com a CPI, afinal era chefe da Casa Civil e
coordenador do grupo de combate à Covid quando ocorreram todos os equívocos que
vêm sendo relatados na comissão. E que resultaram em milhares de mortes que
poderiam ter sido evitadas.
O desmentido do general à
reportagem do “Estadão” foi solene, mas não definitivo. Ele deveria ter dito o
que disse o vice Hamilton Mourão: “É lógico que vai ter eleição (mesmo sem o
voto impresso). Quem é que vai impedir eleição no Brasil? Por favor, gente. Nós
não somos uma república de banana”. Não, Braga preferiu manter-se general menor
e voltou ao velho lenga-lenga de que as Forças Armadas estão “comprometidas com
a estabilidade institucional do país e com a manutenção da democracia e da
liberdade do povo brasileiro”, embora essas não sejam atribuições conferidas a
elas pela Constituição. Até porque, sabe-se lá o que ele entende por liberdade
do povo. Em nome dessa liberdade, outros generais já cometeram inúmeras
atrocidades registradas pela História.
Azeitar, operar, negociar
O Congresso reagiu com euforia ao anúncio
da nomeação do senador Ciro Nogueira para a Casa Civil no lugar de Luiz Eduardo
Ramos, outro general que caminha um passo a mais em direção à rua. Deputados e
senadores disseram que o habilidoso Ciro vai azeitar a engrenagem que liga
Executivo e Legislativo, que ele sabe negociar melhor do que ninguém, e que vai
ser um operador do governo no Congresso. Eufemismos, eufemismos, eufemismos. Azeitar,
na linguagem parlamentar, é dar cargos para os aliados. Negociar é distribuir
verbas públicas em troca de apoio ou, em bom português, fazer negócios. E
operar é a arte de oferecer favores e agrados e atender pedidos, tudo com
dinheiro do contribuinte, claro.
Loteamento
Bolsonaro dizia na campanha que governaria
com 15 ministérios, tomou posse com 21 e na semana que vem serão 23, com a
recriação do Ministério do Trabalho para abrigar o irrelevante Onyx Lorenzoni.
Se continuar disparando
contra o próprio pé com a mesma pontaria de hoje, chegará
ao fim do mandato com uns 40, como Dilma. A conta daquele inchaço, segundo
cálculo das repórteres Luiza Damé e Catarina Alencastro feito para O GLOBO em
maio de 2013, chegou a R$ 58 bilhões.
O engraçado
Paulo Guedes é mesmo muito gozado. Ao
anunciar mais um fatiamento em seu latifúndio ministerial, disse: “Vamos criar empregos, inclusive
com uma reestruturação nossa… (trata-se de) uma mudança na direção do emprego e
da renda”. Fala sério, ministro, os únicos empregos que Onyx vai criar no
Ministério do Trabalho serão os dele e os da sua turma.
Rancho Queimado
Nem toda a turma do interior que apoia
Bolsonaro sabe distinguir com clareza um político de esquerda de um de direita.
Como são conservadores nos costumes, acabam elegendo políticos de direita,
conservadores como eles. Muitos não sabem quanto dura um mandato, como funciona
o princípio da reeleição, para que servem o Congresso e o Supremo, ou o que
significa um golpe militar. Não se trata de burrice, mas de alienação e desinformação. Os
eleitores de Rancho Queimado, citado por Luis Carlos Heinze como a meca da
cloroquina, querem que seus negócios prosperem, querem manter seus empregos,
querem criar seus filhos adequadamente. O que eles mais precisam, mas não
sabem, é de educação política. Se entendessem a gravidade desses dias, o
presidente não teria mais do que 5% de apoio. Ficaria apenas com os trogloditas
como ele.
Clube do bolinha
A Fiesp divulgou esta semana a lista de
membros da sua nova diretoria, do seu Conselho Fiscal e dos delegados da
entidade junto à CNI. Foram eleitas 133 pessoas: o presidente, 25 vice-presidentes
e mais 108 diretores, conselheiros e delegados. Destes, 131 são homens.
Apenas duas mulheres participam
do comando da entidade, Mariana Falcão Dalla Vecchia e Silvia Ribeiro de
Aquino. Sobra gravata e falta saia na Fiesp.
Castigo
Para não deixar dúvida, sou torcedor do
Flamengo, dos chatos, que vê todos os jogos e fica irritado nos dois dias
seguintes a uma derrota do mais querido. Mesmo assim, não há como não anotar
com satisfação o baixo
número de ingressos vendidos para o jogo de Brasília, na
quarta-feira passada. Menos de um terço da carga oferecida foi comprada. O
preço atrapalhou, mas é claro que o brasiliense aproveitou para dar uma banana
ao negacionismo renitente da diretoria do clube.
Barraquinhas
Imaginem como seria a cena proposta por médico
do Ministério da Saúde para o laboratório a céu aberto de Manaus no auge da
crise de oxigênio. Tendas, ou barraquinhas, seriam montadas em frente aos
hospitais da cidade e ofereceriam cloroquina, azitromicina, ivermectina e
outros medicamentos ineficazes aos pacientes que chegassem procurando socorro.
“Cloroquina aqui, cliente”. “Mulher bonita não paga, ivermectina de graça é
aqui”. “Na barraquinha da doutora Mayra você pede uma azitromicina e leva o kit completo”. “Aqui,
dona Iolanda, pegue seu kit e leve uma banda”.
Olímpica 1
Excelente exemplo da delegação brasileira
que desfilou na abertura dos Jogos de Tóquio com apenas quatro integrantes.
Fazer bonito de vez em quando não custa nada e ajuda a diminuir a antipatia global causada pelo capitão. O
número reduzido de desfilantes era para mostrar preocupação com a pandemia de
coronavírus. No Brasil, os atletas devem ter sido vaiados por você sabe quem.
Olímpica 2
Pelo menos 142 atletas publicamente LGBTQ estão
nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Esse número é duas vezes maior do que o
registrado no Rio, em 2016, segundo a Outsports.com.
Correção
Nota publicada na semana passada dizia que as TVs tinham dado enxurrada de matérias e plantões ao vivo da porta do hospital depois da facada no então candidato Jair Bolsonaro, permanecendo assim depois da recuperação do paciente. A direção de jornalismo da Globo, responsável pelos telejornais da TV Globo e da GloboNews, enviou arquivos de vídeo mostrando que a informação estava errada. O noticiário da TV Globo só alterou o padrão na quinta (6/9), dia do atentado, e nos três dias seguintes. Da segunda (10/9) em diante, a saúde do candidato voltou a ser noticiada dentro do minuto a que tinha direito (como os demais candidatos), com exceção do dia em que sofreu nova cirurgia e do dia em que recebeu alta do hospital. A GloboNews adotou a mesma linha, com tempos maiores nos dias subsequentes ao atentado, e cobertura total de não mais que quatro minutos até o fim da campanha, e nas duas mesmas datas (nova cirurgia e alta médica) como exceção, com tempo de pouco mais de meia hora no total do dia. Com a correção, acrescento meu pedido de desculpas aos leitores.
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