Folha de S. Paulo
No Brasil de hoje o que mais vemos são
militares fugindo da raia
Se você perguntar a uma criança de sete
anos qual é a principal virtude de um militar, são grandes as chances de que
ela responda "coragem". Nas historinhas infantis, que exercem forte
doutrinação sobre a molecada, é onipresente a figura do bravo soldado que,
ignorando riscos à própria segurança, enfrenta e subjuga o inimigo.
No Brasil de hoje, porém, o que mais vemos são militares fugindo da raia. Ao ministro da Defesa, general Braga Netto, parece faltar bravura para assumir a responsabilidade por suas próprias ações. De acordo com apuração do jornal O Estado de S. Paulo, o ministro mandou ao Legislativo um recado sugerindo que, sem voto impresso, não haveria eleição. Confrontado com o golpismo, se esconde atrás de negativas pouco convincentes.
E Braga Netto está longe de ser um caso
isolado. O general Eduardo Pazuello, convocado pela CPI da Covid, buscou
refúgio num pretexto médico para adiar o depoimento. O comandante do Exército,
general Paulo Sérgio Oliveira, não teve coragem de punir Pazuello, muito embora
este, ao participar de um comício pro-Bolsonaro, tenha violado o regulamento
aos olhos de todos.
Gostaria de acreditar que a maioria dos
militares brasileiros respeita a Constituição e a democracia. Neste caso,
precisam ser valentes e deixar claro que não obedecerão a ordens absurdas,
mesmo que dadas por quem exerce o comando supremo.
As Forças Armadas, como qualquer
instituição humana, contam com valentes e covardes, éticos e pilantras,
inteligentes e estúpidos. Espera-se que o desenho institucional favoreça
conservar os bons e dispensar os ruins.
O inquietante aumento de problemas que verificamos nos últimos anos se deve à maior participação dos militares em atividades políticas, que dividem as lealdades. É urgente aprovar uma norma que proíba o pessoal da ativa de assumir a maioria dos cargos em governos. Eu estenderia o veto à reserva remunerada.
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