Folha de S. Paulo
A máscara de Bolsonaro caiu, e ele está
como pinto no lixo
Para aprender a sobreviver e evitar surpresas desagradáveis, o urubu de baixo observa o de cima. Dos 35 aos 63 anos, tempo em que exerceu o mandato de deputado federal, Bolsonaro catou as migalhas do bolo —um desvio de dinheiro público por funcionários fantasmas ali, um superfaturamento nos gastos com gasolina acolá— e caprichou na postura histriônica. Entre outros absurdos, propôs a obrigatoriedade de cantar o Hino Nacional com a mão no peito. Ninguém lhe dava bola, e ele foi remoendo o ressentimento e aprendendo como a grande máquina funciona.
Ao chegar à Presidência, usando o disfarce
de outsider, estava mais do que escolado na podridão do sistema. Era só uma
questão de oportunidade para começar a se valer dela e deixar que ela se
aproveitasse dele com as chantagens de sempre. O Bolsonaro real, sem máscara, é
este que hoje sorri e abraça o centrão.
O círculo de proteção e de aniquilamento
das instituições está se fechando, com a recondução do mui benevolente Augusto
Aras para mais dois anos na Procuradoria-Geral da República e a indicação do
"terrivelmente evangélico" André Mendonça ao STF. Na Câmara, brecando
os pedidos de impeachment, Arthur Lira é o dono de todos os orçamentos
secretos. O homem das Alagoas controla a distribuição de bilhões em emendas
parlamentares.
Numa linha de defesa rival estão os
generais que, por vaidade, dinheiro ou sede de poder, não se importam em ser
humilhados pelo ex-tenente que escapou da expulsão do Exército. Chutado da Casa
Civil, Luiz Eduardo Ramos era tão subserviente que tomou a vacina contra a
Covid escondido do chefe.
Os militares, alguns com altos salários e desfrutando de mordomias e favorecimentos, estão mergulhados de cabeça no esquema. Só tendo algo de muito grave a esconder para ameaçar a democracia e condicionar as eleições de 2022 à aprovação do voto impresso.
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