Folha de S. Paulo
A CPI encontrou os documentos, fez a conta
e descobriu o CPF dos culpados
A CPI da Pandemia, que se aproxima de seu
fim, provou a ocorrência do maior crime da história republicana brasileira.
Encontrou os documentos certos, fez as contas certas e descobriu o CPF dos
culpados.
A CPI provou, com documentos, que
Jair Bolsonaro se recusou a comprar as vacinas oferecidas pela Pfizer
e pelo Instituto Butantan, e que só comprou metade da oferta do consórcio Covax
Facility.
Tudo documentado.
Com esse número de vacinas não compradas e os documentos que provam as datas em que elas poderiam estar disponíveis, os cientistas foram trabalhar. Eles sabem o quanto o número de mortes costuma cair conforme a vacinação progride.
Na conta do epidemiologista Pedro Hallal,
feita a pedido da Folha,
só as vacinas da Pfizer e do Butantan teriam salvado cerca de 90 mil pessoas.
Bolsonaro matou essa gente só com duas decisões.
Por sua vez, o jornal O Estado de S. Paulo
calculou que, só com as vacinas recusadas do Butantan, todos os idosos
brasileiros teriam sido imunizados com duas doses até o fim de fevereiro,
estando, portanto, todos imunizados a partir do meio de março. Entre o meio de
março e o momento em que a reportagem foi publicada (27 de maio), 89 mil idosos
morreram de Covid. Supondo que a mortalidade pós-vacinação de idosos fosse
igual à do Chile (20% dos doentes), Bolsonaro matou, com uma única decisão,
cerca de 70 mil idosos só entre o meio de março e maio deste ano.
Todas essas contas, que ainda não usam os
números de vacinas que Bolsonaro se
recusou a comprar do consórcio Covax
Facility, foram apresentadas à CPI. O Ministério da Saúde tem gente
que saberia refutá-las, se elas estivessem erradas. Ninguém se pronunciou.
A CPI também descobriu o que Bolsonaro
estava fazendo em vez de comprar vacina: mandando os trabalhadores brasileiros
para a rua para adoecer, mentindo que haveria remédio caso eles ficassem
doentes.
A CPI documentou a existência de um
gabinete paralelo de médicos estelionatários que, por dizerem o que
Bolsonaro queria ouvir, tornaram-se mais influentes do que os técnicos do
Ministério da Saúde. Foram eles que promoveram os tratamentos com remédios como
a cloroquina, muito depois da ciência ter demonstrado que eles eram ineficazes.
Mais recentemente, veio à luz o caso da
Prevent Senior, que executou experimentos em pacientes inocentes com o
protocolo bolsonarista de cloroquina e similares. O tratamento fracassou, os
pacientes morreram, mas os dados foram falsificados para que não se soubesse
que os pacientes haviam morrido de Covid.
Finalmente, a
CPI descobriu que o governo Bolsonaro se esforçou para que uma, e só
uma, vacina específica fosse aprovada: a Covaxin, que ofereceu suborno à turma
do deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara. O
negócio foi denunciado antes de ser efetivado, mas não por iniciativa de
Bolsonaro.
Em resumo, a CPI provou que Bolsonaro matou
mais de cem mil brasileiros, mentiu para eles que haveria remédio caso
adoecessem, e
acobertou gente de seu governo que tentava roubar dinheiro de vacina.
As revelações da CPI terão algum efeito
político? Tem gente poderosa trabalhando para que não. Mas as provas que a CPI
recolheu não vão embora. Ficarão lá, à espera de um Brasil que volte a ter
instituições que não se vendam nem tenham medo do próprio Exército.
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