Valor Econômico
Pesquisas a um ano das eleições dizem muito
pouco
Em 4/12/1988, Fernando Collor sequer
aparecia nas pesquisas para as eleições presidenciais que iriam se realizar no
ano seguinte. Nesse dia o Datafolha apontava Brizola na liderança, seguido de
perto por Lula ou Silvio Santos, a depender do cenário.
A um ano da disputa de 1994, Lula ocupava
confortavelmente a primeira colocação (31%), com quase o dobro das intenções de
voto de José Sarney (16%). Fernando Henrique àquela altura amargava o quinto
lugar, com 7%, atrás ainda de Maluf (12%) e Brizola (8%).
Com a emenda da reeleição aprovada, FHC
surfava na onda do Plano Real e apareceu, em setembro de 1997, com ampla folga
em relação a Lula: 37% a 22%. Maluf tinha 13%, Sarney 11% e o estreante Ciro
Gomes apenas 5%.
Quatro anos depois Lula já surgia com chances de finalmente vencer uma eleição presidencial: com 30%, o petista estava bem à frente de Ciro (14%), Roseana (12%), Itamar (11%) e Garotinho (9%). Serra, que seria derrotado por Lula no segundo turno um ano depois, tinha apenas 7% da preferência dos entrevistados.
Como todos sabem, Lula chegou ao Planalto
em 2003, mas em 23/10/2005 ele vivia seu inferno astral. No auge do escândalo
do mensalão, sua popularidade despencou a ponto de ficar tecnicamente empatado
com Serra (30% a 27%), causando a impressão de que sua reeleição estaria
ameaçada. No fim das contas, Serra não disputou o pleito de 2006, e Lula acabou
derrotando Geraldo Alckmin (que àquela altura tinha 16% nos levantamentos do
Datafolha).
Sem Lula no páreo, em dezembro de 2009 as
pesquisas indicavam a liderança de Serra (37%), bem à frente de Dilma (23%),
Ciro (13%) e Marina (8%). Deu Dilma.
E quando a petista foi buscar um novo
mandato, sua liderança a um ano da campanha de 2014 era bastante sólida. Com 40%
em média nas pesquisas, tudo indicava que ela bateria com facilidade Marina
(que tinha em torno de 30%), Serra (20 a 25%) ou Aécio (20%), e Eduardo Campos
(15%). Ninguém imaginava que a disputa do ano seguinte seria tão equilibrada
nos dois turnos - sem falar no trágico acidente que vitimou o então governador
pernambucano.
Para completar o quadro, faltando um ano
para as eleições de 2018, o Brasil vivia a indefinição jurídica se Lula poderia
ou não se candidatar, pois estava preso em Curitiba. Traçando oito cenários
diferentes (!), o Datafolha indicava que a vitória ficaria entre o petista (se
ele pudesse concorrer) ou, em caso alternativo, com Marina Silva. Naquele
momento, 1/10/2017, em todos os prognósticos Bolsonaro já despontava como
presença provável no segundo turno, com quase 20% de apoio.
Bolsonaro surpreendeu ao chegar ao poder
com um partido nanico e poucos segundos de propaganda eleitoral, sem alianças
nos Estados e com uma arrecadação baixíssima para os padrões brasileiros.
A principal conclusão dos números acima é
que as pesquisas de intenção de votos, realizadas com um ano de antecedência,
não servem como guia confiável para o resultado definitivo das urnas.
Parafraseando os panfletos de aplicações
financeiras, desempenho passado não é certeza de ganho futuro. Pesquisa
eleitoral é fotografia de momento. Além da estratégia, carisma, propostas e
alianças de cada candidato, uma série de outros fatores podem afetar a dinâmica
das campanhas, do desempenho da economia à eclosão de escândalos de corrupção,
sem falar na contribuição do imponderável.
Nos últimos tempos, vários balões de ensaio
foram testados buscando replicar aquilo que seria “o novo normal” da política
brasileira pós-Bolsonaro 2018. Sergio Moro, Luciano Huck, Luiza Trajano e agora
Datena - todos foram cogitados como alternativa de fora da política, se valendo
de popularidade nas redes sociais para alavancar intenção de voto; e
aparentemente nenhum deles se viabilizou.
Há um ano das eleições, o quadro vai se
consolidando no sentido de que não teremos nenhuma surpresa na urna eletrônica
em 2022. Todos já sabemos quem é Bolsonaro, suas ideias e seu modo de governar.
Como alternativa, o eleitor deverá contar com Lula, Ciro e um tucano (Doria ou
Eduardo Leite). Os demais nomes colocados, todos também advindos da política
tradicional, aparecem mais como opções para compor as chapas dos anteriores;
parece ser o caso de Simone Tebet, Mandetta, Pacheco, Alessandro Vieira, entre
outros.
Mas se engana quem acredita que as
pesquisas citadas acima não enviam mensagens para o futuro.
Bolsonaro inicia o ano final de seu mandato
com a mais baixa intenção de voto entre todos os presidentes que se reelegeram
- FHC tinha 37% em 2001, Lula em torno de 30% em 2009 e Dilma possuía uma média
de 40% em 2013, frente aos 25% do atual presidente. A depender de como seu
governo vai lidar com a grave crise econômica e a ameaça de apagão, suas
chances de chegar competitivo em 2022 podem estar ameaçadas.
Lula, por sua vez, posiciona-se como
candidato pela sétima vez (se contarmos com 2018, quando ele foi impedido de
disputar) e nunca teve um percentual tão alto de preferência do eleitor nesta
altura do campeonato. Seus mais de 40% de agora, portanto, estão mais para teto
do que para piso, ainda mais porque Lula ainda não foi confrontado pela
imprensa a explicar os escândalos de corrupção e a crise econômica deixados
pelas administrações petistas.
Da parte de Ciro, seu desafio é o mesmo
desde quando ele se colocou como aspirante a um lugar no Palácio do Planalto
pela primeira vez, em 1998: superar a barreira dos 10% das intenções de voto e
se mostrar realmente competitivo.
Por fim, resta a opção tucana. A ideia de
marcar prévias inéditas constitui a última chance de fazer algum de seus
postulantes à Presidência ganhar projeção e se mostrar viável no ano que vem.
Ao se mostrarem nacionalmente nos próximos dois meses, digladiando em debates
transmitidos pela TV e pela internet, Doria ou Eduardo Leite tentarão repetir a
façanha de FHC em 1993 ou Serra em 2001 - sair de um dígito a um ano do pleito
e alcançar pelo menos o segundo turno na hora do vamos ver. Mas sem Plano Real.
A se fiar pelas pesquisas das últimas oito
eleições, tudo ainda pode acontecer - inclusive nada.
*Bruno Carazza é mestre em economia e doutor em direito, é autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro” (Companhia das Letras)”
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