O Globo
A economia está operando no modo pânico em
era de incerteza. É isso que se viu na sexta-feira mais uma vez. A nova
variante Ômicrom produziu um episódio de alteração de todos os preços de
ativos, uma volatilidade extrema, que sempre afasta o capital dos destinos de
maiores riscos. O país já vem em crise, desorganizado, indo para a estagnação e
com um presidente cuja capacidade de perturbação social aumenta nas fases mais
agudas da crise. Quanto pior o momento, mais Bolsonaro erra.
A maneira rápida e aguda com que os mercados reagiram no mundo inteiro mostra o grau de instabilidade global. O mundo está, quase dois anos depois do início da pandemia da Covid-19, com os nervos à flor da pele, com as cadeias produtivas desorganizadas, e os preços fora do lugar. Maiores informações sobre uma nova supervariante, com capacidade maior de mutação, podem levar à reversão do episódio da sexta-feira. Mas que ninguém se engane, a crise se aprofundou um pouco mais com a chegada da nova versão do coronavírus.
No começo da semana o temor dos economistas
era em relação à alta das taxas de juros americanas, que alteraria todo o fluxo
de capitais e fortaleceria o dólar. Pois na sexta-feira os juros dos títulos
americanos tiveram forte queda. Foi o maior recuo em um único dia desde março
passado e moedas como o iene japonês e o franco suíço subiram. Antes, o
raciocínio na economia era que o Fed mudaria a política monetária diante da recuperação
pós-covid e dos riscos inflacionários. Agora, o temor é o contrário, que uma
nova onda da pandemia leve a novos episódios de fechamento da economia.
A Europa já estava vivendo um agravamento
dos casos, sem ter ainda a nova variante. Tudo piora com a chegada do inverno.
Seu drama vinha do absurdo movimento antivacina, de pessoas que ao rejeitarem a
imunização expõem toda a sociedade. Essa posição obscurantista na Europa e em
alguns estados dos Estados Unidos contrasta com o drama africano. Lá, onde
surgiu esse Ômicrom, o problema é baixa oferta de vacinas. E se sabe, a esta
altura, que ninguém estará seguro enquanto todos não estiverem seguros.
A economia brasileira já não vinha bem, com
uma inflação de dois dígitos, queda da confiança, queda do nível de atividade,
e desordem nas contas públicas. O país será afetado diretamente pela nova onda
de incerteza global. Só temos uma certeza: o presidente Bolsonaro criará
dificuldade a qualquer medida de proteção da saúde da população, ele vai de
novo tentar procurar culpados, vai hostilizar as autoridades que quiserem
adotar medidas de precaução. Ele vai paralisar a ação dos órgãos públicos.
Bolsonaro continuará sendo um tormento. Isso nos torna mais vulneráveis à nova
versão do vírus, antes que se possa saber se as vacinas atuais são ou não são
efetivas.
Na sexta-feira, o que se tinha era a Anvisa
pedindo o fechamento do país em relação a seis países africanos e o presidente
dizendo em seu cercadinho que é contra. No fim do dia, a Anvisa venceu a queda
de braço. Na véspera, o ministro da Justiça, Anderson Torres, havia discordado
da agência sobre a mais elementar das precauções: exigir passaporte de vacina a
quem vem do exterior. Bolsonaro e seus áulicos fazem qualquer coisa que possa
expor o país nesta pandemia.
O senador Omar Aziz disse que o Congresso
pode aprovar rapidamente a autonomia da Anvisa. Assim a agência passaria não
mais a recomendar, mas a determinar. O senador Randolfe Rodrigues falou que
parlamentares podem ir ao Supremo para tentar obrigar o governo a aceitar a
orientação da Anvisa.
Percebem como nós vivemos o inferno em
plena pandemia? Se essa variante significar um agravamento da crise sanitária
teremos que viver tudo de novo. O país terá que se salvar e se proteger,
brigando com o presidente da República e seu bando de desordeiros. Terá que
lutar através do Judiciário, do Congresso, das autoridades estaduais, com a
ajuda dos médicos e cientistas.
Nesta semana vários indicadores devem
mostrar a situação difícil da economia, com destaque para o PIB do terceiro
trimestre. O Senado votará a absurda PEC dos Precatórios com as suas agressões
às leis fiscais do país. Os presidentes do Senado e da Câmara brigam para
manter sigiloso o orçamento secreto. O Brasil com todos os seus desequilíbrios
está mais vulnerável a um novo agravamento da crise global.
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