O Globo
Com a disputa pela presidência da República
em processo acelerado, que começou na verdade há mais tempo, provocado pelo
próprio Bolsonaro, que ganhou a eleição prometendo acabar com a reeleição e
saiu das urnas já candidato a ela, é importante ter um olho no futuro para
avaliar os diversos cenários em que nos moveremos daqui a um ano.
O lançamento da candidatura do ex-juiz Sérgio Moro tendo dado uma chacoalhada
em uma disputa que já se tinha como certa a polarização final entre Bolsonaro e
Lula, fica-se agora à espera da possibilidade de união no PSDB mesmo depois de
prévias conturbadas para que um novo quadro eleitoral se desenhe.
O economista Cláudio Porto, fundador da Macroplan, consultoria especializada em
estratégia e análises prospectivas, saiu a campo para testar a
temperatura, avaliar incertezas e as tendências delas derivadas. Realizou
uma sondagem de expectativas junto a 250 integrantes das redes da empresa no
período de 9 a 16 de novembro: uma amostra não aleatória de executivos, políticos,
gestores, acadêmicos e especialistas dos setores privado, público e do 3º setor
de todo o Brasil.
Obteve 141 respostas (56%), cujo efeito cruzado configura quatro cenários distintos para os resultados das eleições presidenciais de 2022. Duas incertezas se destacam entre as demais, as mesmas que afligem o cidadão comum, o que mostra a convergência de ansiedades da sociedade como um todo. Uma, política: qual a chance de um terceiro candidato(a) passar para o 2º turno contra um dos dois atuais preferidos nas pesquisas de opinião (Lula ou Bolsonaro)? Outra, econômica: qual a probabilidade de a economia brasileira em 2022 melhorar sensivelmente, como, por exemplo, ter um crescimento econômico maior que 2,5% e inflação menor que 5,5%?
Como refletem as pesquisas de opinião, hoje, o cenário mais provável, com 42% de chance, segundo as expectativas dos que responderam, é de que a polarização Lula e Bolsonaro se imponha no 2º turno, com crescimento econômico baixo (ou mesmo nulo ou negativo) e inflação superando os 5,5% ao ano. Um cenário que tenderia a favorecer o candidato Lula.
O segundo cenário mais provável, com 30% de chance, é de um 2º turno entre um 3º candidato e Lula, também em um contexto de crescimento econômico baixo e inflação significativa. Seria prematuro antecipar um favorito. Nesse caso, é fundamental lembrar que a pesquisa começou um dia depois de Moro ter se lançado candidato pelo Podemos, no dia 10, e se encerrou uma semana depois, quando o impacto da novidade ainda não estava mensurado.
Também o PSDB vivia sua crise das prévias, ainda sem definição do candidato. A polarização Bolsonaro x Lula retorna no 3º cenário, com 17% de chance – segundo a sondagem da Macroplan – mas com um panorama diverso: a economia crescendo com mais vigor, superando os 2,5% ao ano, e a inflação alcançando no máximo a metade do nível deste ano, o que seria um cenário mais favorável à reeleição de Bolsonaro.
Por fim, o cenário hoje avaliado como o menos provável, com 11% de probabilidade, segundo a sondagem da Macroplan, é de um confronto entre um 3º candidato e Bolsonaro num contexto de economia em expansão e inflação cadente. Juntos, os dois últimos cenários se apresentam como os menos prováveis (28%), considerando que nem mesmo o ministério da Economia espera um crescimento econômico exuberante - depois de ter diminuído sua projeção de expansão do PIB para 2,1% (2022) - e que o mercado segue reduzindo suas expectativas de crescimento a cada semana - nas últimas 4 semanas reduziu sua estimativa média de crescimento do PIB de 1,4% para 0,7%, segundo o Boletim Focus divulgado em 22 de novembro último.
Muitos analistas já estão “precificando” 2022 como mais um ano de crescimento próximo de zero ou mesmo de recessão, o que favoreceria o ex-presidente Lula, ou mesmo um candidato à terceira via. Para o economista Claudio Porto ainda é muito cedo para fazer apostas mais firmes, pois o Brasil é um país fértil em instabilidades e surpresas. O jogo político ainda se apresenta muito aberto. Já a economia, tudo indica, continuará em marcha lenta ou mesmo retornando à situação de “baleia encalhada”, para desalento dos brasileiros.
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