Após processo tumultuado, governador de SP obtém 54% dos votos; desafio agora é pacificar o partido e buscar consenso na terceira via
Ao final de um processo tumultuado, com
muitas disputas internas e problemas no aplicativo de votação, o governador de
São Paulo, João Doria, venceu as prévias tucanas para a escolha do
pré-candidato do PSDB à Presidência. Doria obteve 53,99% dos cerca de 30 mil
votos, superando o governador gaúcho Eduardo Leite (44,66%) e o ex-senador
amazonense Arthur Virgílio (1,35%). Agora, Doria tentará unir o PSDB e se
viabilizar como alternativa eleitoral para 2022.
Após uma disputa interna acirrada e problemas técnicos no aplicativo de votação, o governador de São Paulo, João Doria, saiu vencedor ontem das prévias para a escolha do pré-candidato do PSDB à Presidência em 2022. Em seu discurso após o resultado, Doria pregou a união interna do partido e pediu ajuda das demais siglas de centro para a “consolidação” de um “melhor projeto” para o Brasil. “Ninguém faz nada sozinho. Precisaremos da ajuda de todos. Da união do Brasil. Da união do PSDB. Da união com outros líderes e partidos”, afirmou.
Doria obteve 53,99% dos votos, superando o
governador Eduardo Leite (RS), que somou 44,66%, e o ex-senador Arthur Virgílio
(AM), com 1,35%. Cerca de 30 mil tucanos votaram. O detalhamento dos votos
mostra que Doria só não foi o mais votado entre os vereadores, que preferiram
Leite. Os demais filiados, com cargo ou sem, deram a vitória ao governador
paulista, em votações apertadas.
Entre prefeitos e vice-prefeitos, por
exemplo, o placar foi de 393 a 363. Nas bancadas de deputados federais e
estaduais, a diferença foi de sete votos para Doria, que somou 37. Na chamada
“elite tucana” – que reúne senadores, governadores e vice e ex-presidentes do
partido –, o paulista obteve 27 votos, ante 24 dados a Eduardo Leite. A maior
margem do governador paulista foi entre tucanos sem mandato: 15.646 votaram em
Doria e 9.387 optaram por Leite.
Diferentemente do que ocorreu no domingo
passado, o aplicativo de votação funcionou sem falhas – o partido afirma ter
evitado cerca de 30 milhões de tentativas de ataques virtuais ao sistema vindos
do exterior.
PACIFICAÇÃO. Com a definição de seu nome,
após semanas de embates acalorados com Leite e rusgas explícitas no partido,
Doria inicia agora um trabalho de pacificação interna enquanto busca se
viabilizar como alternativa eleitoral em espectro político já congestionado,
com outros nomes já colocados, como o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos), o
ex-ministro Ciro Gomes (PDT), o presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD),
Luiz Felipe D’Avila (Novo) e Simone Tebet (MDB) – que deve ser lançada nos
próximos dias.
No discurso, Doria ressaltou que não há
derrotados, afirmou que o partido foi vitorioso no processo e que estará unido
na “construção de um melhor projeto para o País”. Em seguida, apontou o que
seria o rumo de sua eventual candidatura presidencial, o de ataques ao
presidente Jair Bolsonaro, que deve se filiar nesta semana ao PL, e ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – que lideram as pesquisas de
intenção de voto.
“Lula, você não terá em mim alguém
complacente no debate. Fazer política pública aos mais pobres não dá a ninguém
o direito de roubar”, afirmou Doria. Sobre Bolsonaro, que apoiou em 2018, o
tucano disse que o presidente “vendeu um sonho e entregou um pesadelo”.
O governador afirmou ainda que “o tempo da
corrupção, da incompetência, do negacionismo, da irresponsabilidade fiscal, da
regulação da mídia e dos ataques às instituições democráticas precisa ficar
para trás”. “Vamos dar um basta”, disse.
FUTURO. Num gesto de pacificação interna,
Leite deve ser convidado a integrar a pré-campanha de Doria. Ao discursar após
o resultado, o governador gaúcho afirmou que o PSDB tem força política e
capacidade para liderar um projeto dentro do centro democrático e furar o que
chamou de “polarização inútil” (mais informações na pág. A12).
O governador de São Paulo ainda precisará
ser referendado no ano que vem, em convenção nacional. Apesar das declarações
de maturidade política de Leite e do clamor por união de Doria, o desafio do
PSDB não é só interno. Ele deverá conversar com outras forças políticas de
centro. Moro deve abrir diálogo. O entorno do governador paulista tenta
convencer o ex-juiz da Lava Jato a desistir da candidatura a presidente e a
disputar uma vaga no Senado.
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