O Estado de S. Paulo
Com o desmonte das regras fiscais, o crescimento populista dos gastos será a tônica de 2022
Não existem mais dúvidas: os dados recentes
mostram que o próximo ano será marcado por estagnação, inflação acima da meta,
mais uma vez, e uma enorme desorganização das regras fiscais federais.
As projeções recentes do PIB estão
convergindo para um número próximo de 0,5%. Alguns poucos mais otimistas ainda
trabalham com um número levemente superior a 1%. Só o governo trabalha com mais
de 2% de crescimento para 2022.
O ministro da Economia insiste em dizer que
o mercado vai errar novamente, assim como errou no ano passado, quando projetou
queda de 9%, ante o -4,1% estimado pelo IBGE. Entretanto, a observação do
ministro é falsa: no final de agosto de 2020, quando o auxílio emergencial
atingia mais de 60 milhões de pessoas, a projeção do Boletim Focus era de uma
queda de 5,4% e a da MB, de 4,8%, não muito distante da real.
No que tange à inflação, também existe uma grande convergência nos números: projeta-se um crescimento do IPCA entre 4,5 e 5%.
Com relação à área fiscal, não sabemos ainda a proposta final da PEC dos Precatórios, a popular “do Calote”, nem o formato definitivo do novo Auxílio Brasil. Entretanto, é seguro que todas as regras fiscais terão sido jogadas pela janela, e o crescimento populista dos gastos fiscais será a tônica do ano. Realmente ruim. Todos os brasileiros que sonham com a volta do crescimento precisam acompanhar o que está ocorrendo com a Itália.
Em setembro, a produção industrial estava
3,1% maior do que o nível de dezembro/2019. Apenas para comparação, na mesma
data a produção francesa era de 3,8% e a alemã, 7,6% menores. A indústria
italiana sobrevivente, que continua relativamente grande, voltou a ser
globalmente competitiva.
O sistema bancário italiano conseguiu
reduzir os seus débitos não performados de ¤ 203 bilhões, em 2017, para apenas
¤ 45 bilhões no terceiro trimestre de 2021, e está recuperado.
A Itália, durante as últimas duas décadas,
perseguiu uma austeridade fiscal muito forte, tendo tido consistentemente um
superávit primário da ordem de 1,5% do PIB. Entretanto, agora o país poderá
praticar uma política fiscal expansionista. Com a bênção dos alemães e dos
holandeses, o país receberá recursos, nos próximos cinco anos, da ordem de ¤
200 bilhões do Fundo Europeu. Com isto, o investimento público deverá crescer.
Finalmente, o ministro Draghi continua
avançando em suas reformas.
Embora muita coisa possa dar errado do
ponto de vista político, a Itália tem uma chance única de voltar a crescer de
forma sustentada.
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