O Globo
O capitão avisou: só vai aos debates em
2022 se os adversários aceitarem suas condições. “É para falar sobre o meu
mandato. Até a minha vida particular, fique à vontade. Mas que não entre em
coisas de família, de amigos, porque vai ser algo que não vai levar a lugar
nenhum”, disse.
“Tenho quatro anos de mandato para mostrar
o que fiz”, prosseguiu. “Agora, eu não posso aceitar provocação, coisas
pessoais, porque daí você foge da finalidade de um bom debate”, encerrou.
Pelas regras expostas na quinta-feira, Jair Bolsonaro não poderá ser questionado sobre o vaivém de dinheiro no gabinete do filho Zero Um. “Coisas de família”, incluindo os depósitos de R$ 89 mil para a primeira-dama. Também ficam proibidas perguntas sobre o gabinete do ódio e a indústria das fake news, que puseram o Zero Dois e o Zero Três na mira da polícia.
Que nenhum candidato se atreva a falar em
rachadinha. O termo traz à memória o ex-PM Fabrício Queiroz, antigo parceiro de
pescarias e churrascos. O índex ainda incluirá o miliciano Adriano da Nóbrega,
fuzilado na Bahia. Este era amigo do clã a ponto de receber visita e
condecoração na cadeia.
Bolsonaro sabe que não é talhado para
debates. Em 2018, só participou de dois encontros com rivais. Tentou jogar na
defensiva, mas saiu em desvantagem quando foi confrontado. Na Band, Guilherme
Boulos lembrou que o capitão empregava funcionária fantasma e embolsava auxílio
moradia com imóvel próprio em Brasília. Na RedeTV!, Marina Silva lhe passou
sermão por ensinar uma criança de colo a fazer arminha com os dedos.
Depois da facada, Bolsonaro não se expôs
mais a nenhum confronto direto. Alegou razões médicas, embora tenha recebido
uma equipe de TV no dia em que sete candidatos foram aos estúdios da
Globo. No segundo turno, ele repetiu a desculpa para não debater com
Fernando Haddad. Chegou ao dia da eleição sem ter olhado nos olhos do
adversário.
Não existe debate sério com assuntos
proibidos. Ao impor suas exigências, Bolsonaro busca um pretexto para se
esconder dos adversários. A questão é saber se ele terá condições de bancar uma
nova fuga.
O arrego é um recurso que costuma ser usado
por candidatos favoritos. Era o caso do capitão em 2018, mas tudo indica que
não será mais em 2022.
A história também registra exemplos de
presidenciáveis que se arrependeram da tática. Em 2006, Lula faltou aos debates
do primeiro turno, alegando que não pretendia se submeter a “grosserias e
agressões”. Ausente, virou alvo dos adversários e não teve espaço para se
defender.
Infidelidade a toda prova
Flávio Bolsonaro é um caso patológico de
infidelidade partidária. O senador vai para a quarta legenda em menos de três
anos. Eleito pelo PSL, mudou para o Republicanos e se transferiu de novo para o
Patriota. Na terça-feira, assinará a ficha de filiação do PL.
Na prática, o Zero Um e os irmãos sempre
pertenceram a uma sigla sem registro: o PFB, Partido da Família Bolsonaro. O
clã só usa as legendas oficiais para receber dinheiro público e disputar
eleições.
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