O Globo
O Banco Central subiu a Selic para 10,75% e
já se comprometeu com mais um aumento na reunião de março
A “torre” dos juros que o ministro Paulo
Guedes tanto propagou ter derrubado está de volta aos dois dígitos. O Banco
Central subiu a Selic para 10,75% e já se comprometeu com mais um aumento na
reunião de março, ainda que em ritmo menor, a grande novidade na decisão.
Agora, haverá uma guerra de interpretações no mercado, na tentativa de prever a
taxa final deste ciclo. Ela deve ficar em torno de 12% — um pouco mais, um
pouco menos — mas o importante é entender que os juros nesse patamar terão um
forte impacto sobre a economia e esse é um dos principais motivos para que as
projeções de crescimento deste ano estejam tão baixas.
A verdade é que o Banco Central está sozinho no combate à inflação, já que neste ano eleitoral o governo relaxou as regras fiscais para gastar mais. Por duas vezes no curto comunicado de ontem o BC falou desse assunto. Primeiro, disse que é um risco para a inflação “se houver impulso adicional” da demanda agregada. Depois, que a “incerteza em relação ao arcabouço fiscal” está afetando as projeções para os índices de preços. No modelo do Banco, o IPCA fechará este ano em 5,4%, acima do teto da meta, e em 3,2% no ano que vem. Mas no mercado a estimativa de 2023 está em alta, e por isso o BC avisou que irá “perseverar” até que consiga controlar as expectativas.
A inflação está alta no mundo todo, e ontem
mesmo atingiu 5% na zona do euro, a taxa mais alta da história na região. No
Brasil, no entanto, continua na casa de 10%. Por aqui, há os efeitos da perda
de credibilidade da política econômica e as crises institucionais que encarecem
o dólar. A consequência será esse aumento de juros e o risco de uma nova
recessão.
Ascensão meteórica
O diretor de Relacionamento Institucional
da Petrobras, Rafael Chaves, teve ascensão meteórica na estatal e esta semana
se viu por quê. Após entrar na empresa em 2019, sem prestar concurso, no início
da gestão do ex-presidente Roberto Castello Branco, Chaves vinha ocupando
cargos técnicos na empresa. Primeiro, como economista da área de estratégia,
depois, como gerente-executivo da área de refino. Já seu grande salto aconteceu
sob Silva e Luna, em dezembro, quando chegou à diretoria. O pagamento veio
agora. Um mês depois, vestindo macacão da Petrobras, fez discurso político
criticando administrações petistas. Um ex-executivo classificou o episódio como
“caso explícito de bajulação com objetivo de se promover”.
Jogo combinado
Parecendo coisa combinada, o presidente
Jair Bolsonaro já fez uso político da fala do diretor para sustentar que a
administração da petrolífera agora tem caráter técnico. Pode-se criticar os
erros da administração do PT, mas evidentemente o governo atual está fazendo
uso político da mesma forma. Outro truque é querer jogar sobre os petistas a
culpa pelo preço alto dos combustíveis. Isso é para tentar afastar a
impopularidade que recai sobre o governo quando a gasolina e o diesel disparam.
O discurso do diretor, já citado por Bolsonaro por duas vezes, pegou mal entre
funcionários da empresa, que querem ver a Petrobras longe das disputas
eleitorais deste ano. No governo Jair Bolsonaro, nem os supostos liberais se
salvam.
Problema estrutural
A alta de 2,9% da indústria em dezembro praticamente reverteu os seis meses anteriores de queda, o que é uma boa notícia. Mas os problemas do setor não serão solucionados por um único indicador mensal. Como mostra o gráfico, a indústria vem andando de lado desde antes da pandemia e embora tenha conseguido se recuperar rapidamente dos impactos das medidas de isolamento volta agora a um cenário de estagnação. Três anos depois, o setor está no mesmo patamar de janeiro de 2019.
Nenhum comentário:
Postar um comentário