Folha de S. Paulo
Congresso se assume como espelho das mídias
sociais
"Mao Tsé-tung, Hitler, Stálin, Fidel
Castro e Lula. Todos têm algo em comum: a vontade de desarmar o cidadão."
A frase tem o cheiro e o tamanho de um tuíte escrito por anônimo e replicado
por robôs. Bobagem sem fundamento histórico cujo objetivo é "lacrar",
como se diz.
O autor da bobagem, no entanto, é o deputado federal Paulo Bilynskyj (PL-SP), que a soltou em alto e bom som na sessão de terça (11) da Comissão de Segurança Pública da Câmara. Ex-delegado da Polícia Civil, em sua declaração ao TSE Bilynskyj omitiu ser sócio de um clube de tiro e, em suas redes sociais, costuma fazer apologia a estupro e racismo e incentivar atos golpistas.
Convocada para ouvir o ministro da
Justiça, Flávio Dino,
a sessão foi suspensa após confusão e troca de insultos entre bolsonaristas e
aliados do governo. Dino abandonou a audiência sob gritos de "fujão"
–a imagem surgiu quase em tempo real na internet. Julia Zanatta (PL-SC)
recebeu de Márcio Jerry (PCdoB-MA) uma cafungada no cangote. Zé Trovão (PL-SC)
e Duarte Junior (PSB-MA) tiveram de ser contidos por policiais legislativos.
Duarte acusou Carla Zambelli (PL-SP) de tê-lo mandado "tomar no cu".
O detalhe é que, no calor da baixaria, Zambelli preferiu usar o vernáculo, não
a sigla VTNC, comum nas redes.
Eis o Congresso. O debate inexiste, a regra
é o bate-boca, com ameaças de tiro na cara e B.O. na delegacia. Azar do
Conselho de Ética, obrigado a trabalhar onde ninguém trabalha. Legislar hoje é
fazer vídeos no celular. Os discursos agressivos e os xingamentos têm uma única
finalidade: atiçar a militância e repercutir no Twitter, Instagram, TikTok,
WhatsApp, Facebook, YouTube. É como se a política deixasse de existir e virasse
apenas o espelho das mídias sociais.
Está para ser analisado o PL que
regulamenta as redes. Alguns parlamentares, pelo jeito, vão votar à maneira de
Elon Musk. Mandando um emoji de cocô.
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