segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Fernando Gabeira - Dar uma remota chance à paz

O Globo

O Brasil deve insistir em todos os caminhos que atenuem o sofrimento humano no Oriente Médio

Ondas de insanidade varrem o mundo. Crianças mortas em ataques terroristas, hospitais bombardeados, e nós aqui desolados, com olhos vagando pela Convenção de Genebra, pelo Estatuto de Roma — enfim, por algo que expresse um limite civilizatório para tantos crimes de guerra.

As ondas se estendem para as redes sociais, onde uma parte da esquerda no mundo se recusa a condenar o terrorismo do Hamas, e uma parte da direita acha que todos os palestinos, inclusive crianças, são culpados.

Não chegamos a este ponto de repente, como um raio em céu azul. Quando houve o ataque de sábado, 7 de outubro, comentei que Israel se tornou mais vulnerável com o populismo de direita de Benjamin Netanyahu. Entre alguns espectadores, foi um deus nos acuda. Como assim?

O avanço do governo sobre as prerrogativas da Justiça suscitou um grande movimento de protesto. O país estava francamente dividido. O próprio ministro da Defesa, Yoav Gallant, admitiu que a tensão política tornava Israel mais vulnerável.

Em sua primeira entrevista depois do ataque terrorista, o escritor israelense Yuval Noah Harari, autor de “Sapiens, uma breve história da humanidade”, afirmou exatamente isto: o populismo da direita enfraqueceu o país.

Além dos fatores políticos, houve a decisão militar de transferir tropas para a Cisjordânia, para proteger colonos israelenses que avançam sobre território palestino.

Verdade é que minha constatação precisava ser desdobrada. Israel não se interessou por um diálogo com a Autoridade Palestina e, na verdade, parecia tolerar o crescimento do Hamas.

O próprio mundo ocidental não se deu conta de como as coisas se agravavam. O interlocutor para uma política de dois Estados, a Autoridade Palestina, se desgastou com a corrupção, enquanto a extrema direita religiosa em Israel e o Hamas, que também é uma espécie de direita religiosa, cresciam e ocupavam o espaço central.

John Kerry, que foi inúmeras vezes mediar o conflito no Oriente Médio, disse:

— Em certas situações, não fazer nada causa mais danos que a própria ação.

Os problemas da região, um pouco por cansaço diante de sua complexidade e resiliência, foram quase esquecidos.

Agora, o mundo paga um preço alto. A brutalidade do ato terrorista, a morte de civis na Faixa de Gaza, tudo isso nos joga para trás num momento da História em que as redes não podem atenuar a onda negativa, mas sim ampliá-la e usá-la como combustível para seus rancores cotidianos. O antissemitismo e a islamofobia ampliam o discurso do ódio em lugares onde as pessoas se detestavam com base em opções locais.

São tempos difíceis. Já eram nos estreitos limites de nossas rivalidades provincianas. Tornam-se mais difíceis ainda para as pessoas que não embarcam na canoa bélica e não querem outra coisa, exceto dar uma chance à paz: corredores humanitários, não atirar em civis e fixar o combate apenas contra aquelas organizações como o Hamas, para que tenham o destino de suas similares, Estado Islâmico e Al-Qaeda. Mesmo sabendo que isso é difícil, pois o Hamas é enraizado numa juventude sem horizontes.

Israel é um país traumatizado com a maior perda de sua história, 1.400 mortos, 200 reféns. O trauma também mobilizou os Estados Unidos depois do 11 de Setembro.

Ocupar Gaza representará mortes, combate casa a casa. Como destruir uma imensa rede subterrânea do Hamas e manter intactas as casas na superfície? Cerca de 15% dos prédios de Gaza já foram atingidos, antes mesmo da ocupação. Em caso de vitória, quem administra Gaza? Israel?

A alternativa de um desmonte progressivo do Hamas, por meio de um cerco e ações pontuais, daria tempo para negociar o futuro: as bases da paz, única solução duradoura.

Depois das degradantes imagens do 7 de outubro, é triste ver agora como param carros diante dos hospitais de Gaza com gente trazendo crianças feridas no colo. O Brasil deve insistir em todos os caminhos que atenuem o sofrimento humano no Oriente Médio. Não existe isso de derrota ou vitória, apenas o caminho definido pelos fundamentos de nossa política externa: lutar pela paz. Sempre.

 

2 comentários:

EdsonLuiz disse...

O Brasil deve mesmo se ocupar da questão Israel-Palestina junto com a parte democrática do mundo. E não só da questão Judeus-Árabes o Brasil deve se ocupar ; o Brasil deve se ocupar também dos abusos de Vladimir Putin, de Xi Jiping e de Kim Jong-un na Criméia e em toda a Ucrânia.

Sim!
Sim!
Sim!

É preciso que o mundo democrático se ocupe do mundo!

O Brasil deve se envolver e sempre teve uma política externa exemplar, pensada e aplicada por um corpo diplomático exemplar.

O Brasil, junto com a parte democrática do mundo, tem que se envolver na defesa da democracia e, para além da democracia, se envolver na solução de injustiças, com o Brasil usando a sua política externa sem ideologias e aplicada por profissionais da nossa diplomacia.

O Brasil !
O Brasil !
O Brasil !

Não Lula !
Não o PT !

Lula e o PT fazem questão de deixarem bem claro que não desistem de apoiar ditadores, de apoiar ditaduras e de servirem aos interesses do que há de pior no mundo, de servir aos interesses de Xi Jiping, de Vladimir Putin, da ditadura do Irã, da ditadura de Cuba, da ditadura da Venezuela e de gente assim.

E com que imagem Lula vai atrapalhar os melhores interesses do mundo? A IMAGEM de Lula no mundo é a imagem que Lula pode ter, que é a de um populista corrupto apoiador de ditaduras e terroristas.

O Brasil tem que recuar da política externa ideologizada que vem aplicando desde 2003 com Lula, depois continuada com Bolsonaro, só que em outra chave ideológica, e com Lula retomando a ideologização com sua chave agora, e desta vez com até mais vícios.

ADEMAR AMANCIO disse...

Jesus!