Folha de S. Paulo
A margem de manobra do presidente e suas
escolhas
O Brasil tem o mais poderoso Poder
Executivo do mundo democrático. A afirmação é de Matthew Shugart e John Carey,
em Presidents
and Assemblies: constitutional design and electoral dynamics,
Cambridge, 1992.
Seguiram-se outros trabalhos com foco
regional e, invariavelmente, Brasil e Chile têm se alternado nas primeiras
posições.
No índice que formularam, distinguem os
poderes proativos (áreas de iniciativa exclusiva, etc) dos reativos (veto
presidencial, etc). Concluem que há uma relação inversa entre os poderes
constitucionais dos presidentes e seus poderes partidários (tamanho e coesão do
partido (s) do presidente): quando os constituintes esperam que estes sejam
débeis, haverá maior delegação de poderes aos presidentes por receio de
ingovernabilidade futura. Foi o que aconteceu em 1988.
Muita coisa mudou desde aquele primeiro trabalho pioneiro de mensuração dos Poderes constitucionais. É certo que ocorreram poucas mudanças substantivas nos poderes reativos --nas medidas provisórias e nos poderes orçamentários (orçamento impositivo). No entanto, as relações Executivo-Legislativo sofreram grandes transformações em virtude de alterações estruturais que afetam os demais Poderes.
Os Poderes constitucionais são o núcleo
duro de onde deriva a potência do Executivo, mas obviamente outras variáveis
importam: o poder partidário, o estilo de gerenciamento da coalizão; e outras
de natureza contextual: sua popularidade, o estado da economia, o timing do
mandato (lua de mel versus pato manco).
Entre as transformações recentes que
alteraram marcadamente a relação Executivo-Legislativo está a reforma política
de 2017 e o fim do financiamento empresarial de campanhas. Este choque no sistema
foi a resposta institucional ao mensalão e ao petrolão. A criação do fundo
eleitoral em valores sem paralelo em qualquer democracia alterou de
forma radical a dependência dos partidos --e consequentemente
do Legislativo-- em relação ao Poder Executivo.
Outra mudança seminal também já discutida
na coluna são as transformações
no Poder Judiciário.
Há duas variáveis de escolha na decisão
presidencial quanto à sua coalizão: seu tamanho e heterogeneidade --a amplitude
ideológica de sua base-- a qual tem importância decisiva para a congruência
entre a coalizão e o congresso como um todo. Entre um presidente que delega
para a mediana da distribuição de preferências políticas do Congresso e um que
tenta impor unilateralmente sua agenda há um continuum de posições
intermediárias. Se o Congresso se deslocou à direita, e o portfólio ministerial
e as iniciativas de políticas de governo não refletem isso, haverá custos
consideráveis.
*Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).
Um comentário:
Verdade.
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