O Globo
É saudável que passemos a encarar a
inovação científica como se houvesse uma ‘curva de amadurecimento’
Tecnologias como o ChatGPT são
diferentes de tudo o que conhecíamos até então. Tipicamente, um avanço
tecnológico ocorria quando uma empresa ou um grupo de pesquisadores
desenvolviam um produto ou serviço inovador. Ou ainda quando descobriam uma
maneira mais inteligente de realizar uma velha tarefa.
A inovação estava, portanto, no ato de
criar ou de aperfeiçoar uma tecnologia. Com o advento da Inteligência
Artificial (IA) e das aplicações de machine learning, isso
mudou.
O lançamento de uma ferramenta como o ChatGPT para o público geral é apenas uma etapa na sua curva de amadurecimento. Só conheceremos o pleno potencial dessa tecnologia com o passar do tempo, à medida que ela aprender interagindo com os seres humanos e encontrar maneiras ainda mais certeiras de responder às nossas demandas. Se você está impressionado(a) com o ChatGPT hoje, espere só ele atingir altitude de cruzeiro.
É saudável que passemos a encarar a
inovação científica dessa maneira, como se houvesse uma “curva de
amadurecimento” para cada nova tecnologia. Isso porque, na área social, é
exatamente assim que os avanços ocorrem.
Quando a Gerando Falcões lançou o programa
Favela 3D, recorremos aos parceiros da Accenture e montamos um planejamento
estratégico para os dez anos seguintes. Nossa meta era levar o programa para
mil favelas brasileiras dentro desse prazo. Mas como?
Concebemos quatro etapas: aperfeiçoamento,
maturação, expansão e escala. Passamos os últimos anos dedicados à primeira
etapa, com a criação e a implementação de projetos-pilotos. Coletamos dados
sobre os territórios escolhidos, construímos políticas sociais de baixo para
cima, firmamos acordos com a iniciativa privada e com o poder público,
notadamente os governos de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Em junho, entregaremos uma Favela dos
Sonhos em Ferraz de Vasconcelos (SP), completamente reurbanizada, plena de
infraestrutura e serviços, com sua população dotada de renda e de oportunidades
no mercado de trabalho. Dezembro será a vez da Favela Marte, em São José do Rio
Preto (SP).
É impossível não sentir orgulho do trabalho
feito até aqui, mas ainda é cedo para qualquer sentimento de “missão cumprida”.
O programa entra agora na segunda etapa, quando acompanharemos o
desenvolvimento desses territórios e azeitaremos nossas estratégias, com base
em observações e na experiência acumulada. Só então saberemos com certeza que
está pronto para ganhar escala e se espalhar pelo país.
Creio que o melhor do Favela 3D ainda se
revelará. Na área social, não existe fast-food, sobretudo num país como o
Brasil, com passado escravista, histórico de baixo investimento em políticas
sociais e índices alarmantes de desigualdade. É preciso sempre buscar maneiras
mais rápidas, eficientes e baratas de atingir um objetivo.
Daí o paralelo com as novas ferramentas de
IA. Assim como o ChatGPT e similares, uma tecnologia social também precisa de
tempo para amadurecer, a depender da quantidade e qualidade do input que lhe é
oferecido.
Com a entrega das favelas Marte e Sonhos, o
Favela 3D fez sua estreia oficial. Agora vem a parte mais difícil: garantir que
aquelas comunidades caminharão e prosperarão de forma autônoma, sem a
necessidade de novas ações emergenciais.
Só então o programa terá atingido seu maior
objetivo: oferecer às pessoas não uma ajuda, mas um caminho de emancipação da
pobreza extrema.
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