Folha de S. Paulo
A violência política mingua a democracia, e
as condenações são irrisórias
Entre cadeirada, soco, cusparada,
intimidações, ataques e ameaças de morte, a violência política tornou-se a marca das eleições municipais
de 2024.
A menos de uma semana para o primeiro turno
do pleito (no dia 6 de outubro), é difícil encontrar quem não saiba de alguma
ofensiva criminosa contra postulantes a prefeituras ou câmaras de vereadores
pelo país.
O caso mais estarrecedor foi transmitido ao
vivo pela televisão e envolveu dois homens na disputa pelo comando da maior
cidade da América Latina.
Mas, para além do matiz ideológico, gênero e raça têm servido de agravantes da violência política, fazendo das mulheres (em especial as negras) o principal alvo.
Nos debates para prefeituras de capitais como
São Paulo (SP), Porto Alegre (RS) e Belo Horizonte (MG), mulheres candidatas
tiveram suas propostas ofuscadas por insultos e comentários misóginos e transfóbicos.
Em Salvador (BA), um homem branco cuspiu numa
mulher preta postulante à prefeitura da cidade mais negra do mundo fora da
África.
Em Niterói, região metropolitana do RJ, pelo
menos uma das três mulheres candidatas à prefeitura recebeu ameaças contra a
própria vida e a dos filhos para renunciar.
Em Caieiras, interior de SP, a única mulher
na disputa ao Executivo foi ameaçada por um grupo de homens armados dizendo, em
vídeo, que ela "só será prefeita no cemitério".
Este é o ano com o maior número de mulheres candidatas na história do Brasil
(34%, pelo TSE).
Não por acaso, a relação de atentados à democracia perpetrados por meio da
violência política de gênero e de raça é enorme. E abrange o Congresso Nacional.
A PEC da Anistia contribuiu para regularizar a burla no
repasse de dinheiro público para campanhas de mulheres e negros, impactando a
equidade de condições nas disputas. Não é à toa que poucas mulheres ocupam
cargos eletivos pelo país –nos municípios, elas são 6,3% dos vereadores e 5%
dos prefeitos.
Três anos depois da aprovação das leis 14.192
e 14.197, criadas para prevenir, reprimir e combater atentados
ao exercício de direitos políticos e funções públicas, condenações são
irrisórias. E a violência política segue minando a democracia. Até quando?
Um comentário:
Teve caso de morte,mais grave que a cadeirada.
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