Folha de S. Paulo
Divisão nas eleições municipais deixa
sequelas no rótulo da 'direita moderada'
A contestação à liderança de Jair
Bolsonaro será só uma das sequelas na direita após as eleições
municipais. O ex-presidente deve preservar esse papel, mas a vacilação entre
candidatos tradicionais e radicais terá impacto sobre as escolhas
de seu grupo e pode afetar a definição de seu sucessor.
A divisão da direita assumiu três formas principais. Em algumas cidades, Bolsonaro apoiou políticos considerados moderados e foi ameaçado por candidatos mais radicais. Em outras, lançou nomes de extrema direita e dividiu os votos com candidatos de direita. No terceiro cenário, os radicais varreram os votos desse campo. Foram poucos os municípios com peso político relevante em que a direita moderada atropelou a extrema direita.
A disputa em São Paulo se
encaixou na primeira categoria. O apelo de Pablo Marçal foi
potencializado pela ideia de que Bolsonaro havia sido domesticado pelo
"sistema", apoiando Ricardo Nunes. O influenciador perdeu, mas a
escolha causou um dano grave de reputação ao ex-presidente.
Houve situações em que Bolsonaro permaneceu
fiel ao próprio extremismo. Em Goiânia, ele ignorou um candidato de direita e
apoiou um nome mais radical. Em Curitiba, o ex-presidente trocou de candidato
nos últimos dias para evitar outro caso Marçal. Nas duas capitais, o
bolsonarismo raiz foi para o segundo turno contra a direita tradicional.
Em Cuiabá, Fortaleza e Belo Horizonte,
expoentes de uma direita digital, raivosa e abertamente golpista dominaram o
campo político e deixaram para trás opções mais próximas do centro.
A experiência destas eleições dá ao
bolsonarismo incentivos para fincar seus pés na extrema direita no próximo
ciclo eleitoral.
Uma campanha presidencial de Tarcísio de
Freitas como candidato da direita
moderada, em aliança com Gilberto Kassab, por exemplo, correria o
risco de ser desafiada por um nome à sua direita. O governador poderia fechar a
brecha num abraço genuíno com o bolsonarismo radical.
A candidatura de um Eduardo
Bolsonaro, por outro lado, pode até ser contestada na direita por
nomes como Ronaldo Caiado ou Ratinho Júnior, mas nenhum deles parece
representar uma ameaça ao bolsonarismo até aqui.
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