O Globo
O segundo turno vai mostrar brigas entre a
direita, que embora tenha vencido na primeira etapa, se fragmentou
A briga da direita não é apenas uma, são muitas. O cientista político Felipe Nunes, da Quaest, chega a definir certas disputas como “primárias da direita”. O cientista político Carlos Melo, do Insper, disse que o fato mais marcante desta eleição de primeiro turno é que “o espectro político da direita, embora tenha vencido, se fragmentou. E isso eu acho mais importante porque exigirá análises mais sofisticadas”. Nunes acha que o “antipetismo ganhou a eleição em muitos lugares, mas ganhou rachado. E esse racha tem consequências em 2026.” As fissuras vão se aprofundar em certas cidades.
Só para citar as capitais em que se
enfrentarão grupos da direita: em Curitiba, vão disputar Cristina Graeml (MDB)
apoiada por Bolsonaro contra Eduardo Pimentel (PSD), candidato do governador
Ratinho Jr. Em Campo Grande, a ex-ministra Tereza Cristina havia pedido que o
ex-presidente apoiasse a candidata Adriane Lopes, do PP. Ele se negou e apoiou
outro candidato, que não foi para o segundo turno. Adriane vai disputar com
Rose Modesto, do União. Em Goiânia, será Fred Rodrigues do PL defendido por
Bolsonaro contra Sandro Mabel, do União, candidato do governador Ronaldo
Caiado. Em João Pessoa, Cícero Lucena do PP contra o candidato bolsonarista
Marcelo Queiroga, do PL. Em Palmas, serão também duas direitas: Janad Valcari,
do PL, contra Eduardo Siqueira Campos, do Podemos. São conflitos, em geral,
entre o ex-presidente e forças estaduais que o apoiavam. Por isso, Felipe Nunes
os chama de “primárias da direita”.
Isso sem falar nos muitos confrontos que
surgiram em São Paulo em torno da candidatura fracassada de Pablo Marçal,
mas que em determinado momento foi alimentada pelo jogo duplo de Bolsonaro. Os
ecos da briga ainda estão acontecendo, enquanto o prefeito Ricardo Nunes e
o governador de São Paulo, Tarcísio de
Freitas, tentam atrair o eleitor do Marçal sem pagar a conta de
estar ao lado do próprio Marçal, que exige pedido de desculpas. Carlos Melo
considera que esta briga foi significativa.
— Não dá para você pensar em bolsonarismo
como um bloco contra o petismo. E eu acho que esse é um dado relevante para a
gente olhar o futuro. A derrota do petismo parece clara. O antipetismo será um
agregador dessa direita fragmentada? Ou ele não terá forças nos próximos dois
anos para agregar a direita, porque a fragmentação será tão decisiva que não
tem possibilidades de colar? Vamos ter que esperar para ver. A briga interna da
direita não foi pouca. Houve acusações de lado a lado e ela não terminou. Talvez
esteja apenas começando. Com Bolsonaro inelegível, as apostas ficam em aberto —
disse Carlos Melo.
Entrevistei Nunes e Melo no meu programa na
GloboNews sobre como entender o que aconteceu e como prever o que haverá pela
frente. Felipe Nunes acha que a polarização não acabou. Ela estará presente em
Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte, Aracaju, Belém, Cuiabá, Natal e
Fortaleza. No caso de Fortaleza, a última simulação de segundo turno, feita no
primeiro turno, deu um empate numérico: André Fernandes, PL, com 43% e Evandro
Leitão, PT, com os mesmos 43%.
— Se isso se confirmar, vai ser uma guerra
política importante. Já em São Paulo, a projeção das pesquisas sugere que a
maior parte do eleitor de Marçal tenderia a ir para o Nunes, assim como a maior
parte do eleitor de Tabata Amaral.
Tem gente que duvida, porque ela se posicionou (em favor de Guilherme
Boulos). E vale chamar a atenção que a posição de Marçal foi, de
novo, disruptiva, ao dizer que quem vai ganhar é o Boulos, não é o Nunes —
disse Felipe Nunes.
Carlos Melo define como “um projeto de poder”
todo o movimento de Gilberto
Kassab para levar o PSD a ser o partido com mais municípios.
— Esses resultados não são determinantes para
presidente da República, para o governador, mas são determinantes para a
eleição da Câmara dos Deputados. Então isso já pode ter efeitos na própria
disputa na mesa da Câmara, que vai se dar em fevereiro — disse Carlos Melo.
Felipe Nunes complementou:
—Exatamente, porque as emendas fizeram
diferença nessa eleição, podem ter sido fundamentais. E aí que entra a disputa
da Câmara dos Deputados. Se as emendas são tão importantes para eleger
prefeitos, a presidência da Câmara virou um posto tão importante quanto a
presidência da República.
Um comentário:
O pessoal nem sabe que existe um partido chamado PSD,rs.
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