O Estado de S. Paulo
Presidente Lula e Jair Bolsonaro enfrentam o cansaço com o ‘velho’
Lula e Bolsonaro se preparam para serem
“decisivos” no segundo turno paulistano. Sem dúvida serão influentes, mas aquém
do que acham de si mesmos.
Essa perda relativa de importância não é em
função da performance pessoal de cada um deles – ela continua basicamente a
mesma. E nisto reside o problema para ambos: as eleições municipais em geral e
a de São Paulo em especial evidenciaram cansaço com a “velha” polarização.
Lula não é mais o mesmo, pois suas plataformas de “esquerda” perderam claramente apelo eleitoral ao longo de mais de uma década (a vitória contra Bolsonaro pode ser vista como ponto fora da curva). Trata-se de séria questão estrutural – e, possivelmente, de idade também.
Bolsonaro vem perdendo a condição de “mito”
por um outro tipo de questão estrutural, também de grande abrangência. As
últimas eleições demonstraram a importância da política organizada,
hierarquizada, capilarizada e alimentada pelos cofres públicos e pela máquina
pública, e que se expressou no sucesso de pelo menos seis partidos.
Nas contas de Gilberto Kassab, um dos mais
hábeis operadores políticos do momento, essas seis siglas podem ser arrumadas
em três de “direita” (PL, PP e Republicanos) e três de “centro” (PSD, MDB e
União Brasil). Juntas, tiveram 72 milhões de votos ante 23 milhões dos
agrupamentos de esquerda.
Ocorre que, fora o PL, Bolsonaro não
“comanda” nenhuma delas. Ao contrário, dependendo das conveniências regionais
ou locais, essas correntes de “direita” caminham até em direções opostas.
Kassab chama isso de “transição”, pois quem apostou na polarização das bolhas
não se saiu bem nas recentes eleições municipais.
Para 2026 essa “transição” tem algo bem
conhecido: é o fato de esse enorme ajuntamento político operar sabendo que não
precisa se agarrar a candidatos, pois, na relação de forças entre os poderes,
quem for eleito dependerá desse amálgama (como aconteceu com Bolsonaro e
acontece com Lula). Pelo jeito, as coisas transicionam para ficar assim como
são, menos a acidez de “bolhas”.
Pode-se enxergar em alguns candidatos em
capitais (e os respectivos governadores que os apoiaram) algum tipo de
“renovação”, pois o sucesso eleitoral deles e de seus articuladores não
dependeu exclusivamente de Lula ou Bolsonaro. Nesse sentido, têm seu “próprio”
capital político, o que sugere cenários mais fluidos para 2026 do que a
enfadonha repetição da polarização.
Perdoando a simplificação, é bom lembrar que
o eleitor “indignado” e o eleitor “frustrado” tiveram grande influência nas
duas últimas eleições presidenciais. Não está claro para onde correrão agora.
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