sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Lula, a direita e o gasto da esquerda – Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Cúpula petista, parte do governo e manifesto de esquerda querem dobrar aposta errada

A primeira vez que este jornalista ouviu de uma autoridade de governo uma ideia prática de criar um teto de gastos foi em fins de 2015. A autoridade era Nelson Barbosa, ministro da Fazenda de Dilma Rousseff, recém-nomeado. O nome da coisa era esse mesmo, "teto". Barbosa ora é diretor do BNDES.

Fiz as perguntas óbvias de qualquer incrédulo. O programa petista não era aquele, a ação dos governos petistas de 2007 a 2014 não fora aquela (e Barbosa havia sido importante no governo). A esquerda pedira nas ruas a cabeça de Joaquim Levy (o "mãos de tesoura", ministro que antecedeu Barbosa); dizia que era preciso enfrentar a direita com mais gastos.

A campanha de deposição de Dilma estava à toda, assim como a sabotagem legislativa tocada pelo PSDB liderado por Aécio Neves, com o apoio do MDB e cia.

Era óbvio que a limitação da despesa total apenas funcionaria se houvesse também contenção do gasto com Previdência e do impacto dos aumentos do mínimo nos benefícios do INSS.

Barbosa disse que iria propor reforma previdenciária, que haveria "gatilhos" de contenção de gastos em geral caso a despesa avançasse além da conta, inclusive com a suspensão do reajuste do mínimo ou com a criação de regra de reajustes reais menores. Dizia ainda que era preciso rever desonerações (reduções de impostos para setores).

Faz quase nove anos.

Não era o teto de Michel Temer, que Barbosa criticaria, por constitucionalizar o limite por 20 anos, entre outros problemas. Mas era um teto.

A ideia foi ao Congresso em março de 2016 e lá morreu. Dilma 2 era então quase pó. A reforma previdenciária nem respirou, por oposição petista. O PT fritou Barbosa, por ação e omissão, pois era contra o teto. O ministro saiu em maio de 2016. Era o meio da Grande Recessão. O governo Temer apresentou seu teto logo depois.

Novembro de 2024. Faz quase dois anos, Fernando Haddad tenta conter o ritmo de aumento de despesas (não é corte), sem o que o teto móvel de Lula 3, o arcabouço fiscal, desabará. A nova ofensiva do ministro da Fazenda vai sendo desidratada, nas internas. E externas.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, diz que a vitória de Trump é um alerta para o "campo da democracia", que deve se preparar para o "enfrentamento", "dar respostas concretas às necessidades e expectativas do povo, que não cabem na agenda neoliberal que o mercado quer impor ao governo e ao país". Um manifesto recente de intelectuais e companheiros de viagem à esquerda do PT vai na mesma linha: mais gasto.

Donos do dinheiro grosso em geral cobram mais caro para emprestar ao governo (as taxas de juros no atacado subiram loucamente), pois acreditam que o arcabouço vai para o vinagre até 2027. Em parte, não querem deixar seus ativos em reais –o dólar se desvaloriza loucamente também por isso. É inflação estocada; carestia é facada no prestígio político. A inflação anual de alimentos já corre a 7%, por outros motivos. Pode ir além, com dólar e, talvez, com superaquecimento da economia. Ou cairá com juros amargos.

Um plano fiscal amplo exige redução de desonerações e aumentos diretos de impostos, sobre ricos em especial. Mas também contenção no INSS, desvinculações (de saúde e educação) etc. Lula 3 não o fez no início de mandato; ficou difícil de aumentar mais imposto depois da crise de janeiro a maio.

Agora, está entre a cruz e a caldeirinha.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

Quem também está vivendo seu inferno astral é o ministro Alexandre de Moraes
Ficou se sabendo através de relatórios americanos, que todas as suas iniciativas de censura e de controlar os conservadores de direita , os opositores em geral , foi foi produzido e orientado pelo Departamento de Estado Americano através de cartilhas de ONGs financiadas pelo Departamento de Estado Americana , Para implantar as censura e o controle das informações divergente na internet O ministro Morais seguiu a risca colocando em prática , ou seja tudo que foi feito foi orientado , financiado e garantido pelos norte-americanos no Governo Biden
Agora com a vitória do Trump esse mesmo departamento de Estado e o FBI estão indo atrás dele para cobrar essas atitudes ditatoriais ,
O careca está apavorado sem dormir, porque sabe que retaliação vai ser pesada, pra começar suspensão de visto americano e congelamento dos seus ativos e patrimônios naquele país

Luiz Oliveira disse...

Temporada dos delírios.