sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Bernardo Mello Franco – O sonho de Jair

O Globo

Jair Bolsonaro tem um sonho. Quer usar a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos como trampolim para voltar ao poder no Brasil. O capitão está eufórico com o triunfo da extrema direita americana. “Quase tudo o que acontece lá acontece aqui”, proclamou.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Bolsonaro definiu a conquista do republicano como um “passo importantíssimo” para recuperar seus direitos políticos. “Acredito que o Trump gostaria que eu fosse elegível”, justificou.

À espera de um afago, o capitão abanou o rabo e estendeu a pata para o presidente eleito dos EUA. “Ele gosta de mim”, disse. “É como você se apaixonar por alguém de graça, né? Essa paixão veio da forma como eu tratava ele”, prosseguiu.

Empenhado em demonstrar fidelidade, Bolsonaro se gabou de ter sido “o último chefe de Estado” a reconhecer a vitória de Joe Biden em 2020. “Ele não esquece isso”, emendou, referindo-se a Trump. A bajulação fez lembrar sua política externa rastejante, ancorada numa relação de vassalagem com a Casa Branca.

Com o passaporte apreendido, o ex-presidente enviou uma caravana de aliados para a Flórida. Até Gilson Machado, o sanfoneiro do Alvorada, pegou carona no voo da alegria. Depois de levar uma surra na eleição do Recife, o ex-ministro reapareceu como papagaio de pirata na festa trumpista em Palm Beach.

Apesar da torcida do capitão, nada indica que o resultado da eleição americana vá ajudá-lo a limpar sua ficha no Brasil. Ele já foi condenado a oito anos de inelegibilidade por espalhar mentiras sobre a urna eletrônica e transformar o bicentenário da Independência num ato de campanha. Ainda será julgado por crimes mais graves, como o desvio de joias da Presidência e a tentativa de golpe para se perpetuar no poder.

Numa passagem curiosa da entrevista, Bolsonaro disse que Michel Temer poderia ser seu companheiro de chapa numa candidatura imaginária em 2026. “Ele é garantista, é um ex-presidente”, elogiou. O capitão tem muitos defeitos, mas não pode ser chamado de medroso. Depois do que aconteceu com Dilma Rousseff, pensar em Temer como vice é uma prova de coragem.

 

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