O Estado de S. Paulo.
Oficiais tentam constranger generais com o objetivo de colocar a Força Terrestre no golpe
Os réus apareceram
fardados. E tentaram trazer para o processo da trama golpista os generais
Alcides Valeriano de Faria Júnior e Luiz Gonzaga Viana Filho. O primeiro
comandava a 6.ª Divisão (6.ª DE) e o outro, o Centro de Inteligência do
Exército (CIE) nos messes que antecederam a intentona bolsonarista de 8 de
janeiro de 2023. Ambos ganharam a quarta estrela na última promoção decidida
pelo Alto-Comando da Força.
Mais do que comprometer os generais na trama, o que os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima e Fabrício Moreira de Bastos pretendiam era arrastar o Exército para o banco dos réus, em uma estratégia parecida à do coronel Brilhante Ustra durante seu depoimento à Comissão Nacional da Verdade. A diferença é que Ustra dirigira nos anos 1970 um órgão da Força Terrestre. Não desbordou a hierarquia nem agiu clandestinamente contra o Alto-Comando.
Ao depor, Ferreira Lima
disse que só produzira “um cenário prospectivo”, a Operação Luneta, que previa
a prisão dos ministros do STF. Afirmou que não estava fazendo “nada oculto”.
Com certa naturalidade, afirmou que o plano “surgiu numa conversa minha com o
meu comandante”. Disse ainda que, ao apresentá-lo ao chefe, este disse que “a
prioridade dele era outra”. “Ele mandou eu abandonar isso de lado. Nem olhou,
nem abriu computador.”
O que o tenente-coronel,
que estava na 6.ª DE, com sede em Porto Alegre, não explica é por que um
cenário desses seria elaborado no Rio Grande do Sul sobre algo que não tinha
nenhuma relação com a divisão? A serviço de quem estava a sua lealdade? O objetivo
de Ferreira Lima é evidente: constranger o AltoComando. Manobra idêntica foi
tentada por Bastos ao dizer sem provas que a Carta ao Comandante do Exército de
Oficiais lhe foi passada por um coronel do CIE. Órgão de assessoria do comando
da Força, o centro era chefiado por Viana Filho. Bastos não revelou o nome do
tal coronel.
As versões dos réus estão
cheias de pérolas, como dizer que a reunião na casa do general Walter Braga
Netto aconteceu por acaso ou que o plano para matar Alexandre de Moraes foi
impresso em três vias, mas só para o general Mário Fernandes ler. Isso mesmo:
três vias, mas apenas para os olhos do general.
Tentar levar a crise para
o CIE é tudo o que os réus desejam. Seria comprometer não só o então comandante
do Exército, general Freire Gomes, mas o seu entorno. Eis porque a “rataria”
queria depor com uniforme. Não por outra razão, Moraes determinou que os réus
não podiam vestir a farda. “A acusação é voltada contra os militares, não
contra o Exército.” O ministro pode ser chamado de muitas coisas, menos de
ingênuo.
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