Folha de S. Paulo
A versão de que a trama
do golpe foi fruto de meras elucubrações é de difícil digestão pelos juízes do
processo
Réus no processo por tentativa
de golpe de Estado têm alegado que documentos e registros de mensagens
de incentivo a um levante eram cogitações individuais sem consequências
práticas.
Uma estratégia de defesa válida, mas de difícil digestão para observadores de fora do Supremo Tribunal Federal e ainda mais improvável de ser aceita pelos juízes. Convenhamos, é muita gente pensando na mesma coisa ao mesmo tempo. Não tendo havido golpe, não houve crime, argumentam os pensadores na esperança de que não se leve em conta a tipificação de tentativa constante na lei. Ora, se pensaram, logo existiram como articuladores de uma intentona.
A gravidade poderia ficar
por aí, não fossem provas de que a coisa foi além de elucubrações golpistas. No
período sob escrutínio de investigadores, os que se imputavam a condição de
meros teóricos davam-se àquelas conjecturas de dentro do Palácio do Planalto e
cercanias, com aval do presidente da República.
O general
Mário Fernandes pensou, escreveu e imprimiu um plano de assassinato de
presidente, vice e ministro do Supremo nas dependências da Secretaria-Geral da
Presidência, onde era subchefe. O kid preto tenente-coronel
Hélio Ferreira Lima acaba de dizer ao STF que
elaborou um plano para prender "juízes supremos", mas era só
"ferramenta de análise hipotética".
Na agenda do general
Augusto Heleno, à época chefe do Gabinete de Segurança Institucional, havia
anotações de natureza conspiratória, na versão dele conjecturas pessoais de
ordem secreta. Pública foi sua sugestão em reunião com Jair
Bolsonaro sobre "virar a mesa antes das eleições".
Tudo isso sem contar
manifestações de comparsas alojados em quartéis e plataformas de comunicação
com ameaças e campanhas de difamação contra militares que se opunham à execução
da trama.
Pegos na beira da botija,
os autores da trama agora alegam terem feito considerações inofensivas. Resta
convencerem a Justiça de que não foram altamente ofensivas à saúde democrática
do Brasil.
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