Valor Econômico
Crédito
tributário para empresas de médio porte é uma das possibilidade em estudo pelo
governo em reação ao tarifaço de Trump
Caso seja concretizado o
tarifaço de 50% na próxima sexta-feira, empresas de porte médio que vendem para
os Estados Unidos poderão receber um crédito tributário de 3% sobre o valor
exportado. Essa é uma das possibilidades em exame, informou à coluna um integrante
do governo.
Esse crédito, chamado Reintegra, já existe hoje ao nível de
0,1%. Elevá-lo a 3% é antiga reivindicação dos exportadores, reforçada agora no
contexto da escalada tarifária promovida pelo presidente Donald Trump. Está na
lista de sugestões entregues pelo setor privado ao vice-presidente e ministro
do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.
Na última segunda-feira, o Reintegra de 3% foi instituído para MEIs, micro e pequenas empresas que exportam, independentemente de mercado destinatário, como parte do programa Acredita Exportação. O que se examina no momento é se as médias que exportam para os Estados Unidos também terão acesso à alíquota de 3%.
O plano de contingência
elaborado para reagir ao tarifaço é amplo. O ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, já disse que estão no cardápio medidas que procuram preservar os
empregos nas empresas afetadas, à semelhança do que foi feito durante a
pandemia. Linhas de crédito a juros baixos, inspiradas na calamidade do Rio
Grande do Sul, também foram elaboradas. O conjunto foi apresentado a Lula na
noite de segunda-feira. Havendo tarifaço, ele decidirá quais adotar.
No setor de máquinas e equipamentos, por exemplo, cada caso é um
caso. As exportações para os Estados Unidos representam 7% do faturamento do
setor, disse o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de
Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso. O potencial estrago não parece
tão assustador no dado agregado, mas há no conjunto empresas que destinam até
80% de sua produção para o mercado norte-americano.
No geral, disse Velloso, as indústrias de máquinas e
equipamentos precisariam de três medidas. Uma delas é o Reintegra de 3%, que
poderia ser concedido de forma “cirúrgica”, só para as realmente impactadas,
sugeriu.
Outra seria uma linha de crédito a juros internacionais para
apoiar empresas que fizeram Adiantamentos por Contrato de Câmbio (ACC) e
Adiantamentos sobre Cambiais Entregues (ACE) e que tenham suas vendas
canceladas em função do tarifaço.
Essas duas operações, explicou Velloso, permitem às empresas
antecipar, nos bancos, as receitas geradas por exportações. Os empréstimos são
em reais, usando como referência o dólar, e a taxa de juros é a do mercado
internacional. Mas, se a operação é cancelada, a linha é imediatamente
convertida em um empréstimo de curto prazo, corrigido pela taxa Selic, bem mais
elevada.
As indústrias pedem uma linha de crédito que permita renegociar
ACCs e ACEs de exportações que venham a ser frustradas. “Não precisa ser
subsidiada, porque seria um dinheiro captado lá fora em dólar, repassado em
dólar, com juros em dólar”, disse. “Não tem impacto fiscal.”
Um terceiro pedido é dirigido aos governos estaduais: o pagamento de créditos
tributários acumulados das exportações, que montam à casa dos milhões de
dólares.
O setor de máquinas e equipamentos é um exemplo de como se
desenvolveu a relação econômica de brasileiros e americanos ao longo das
últimas décadas: pela integração do setor privado. Há inúmeras cadeias de
produção que operam como um conjunto nos dois países. Não por acaso, os Estados
Unidos são os maiores investidores diretos no Brasil.
Assim, é do interesse dos empresários americanos superar a crise
do tarifaço, avaliou Velloso. Também pressionam pelo entendimento o fato de
haver superávit para os Estados Unidos na relação comercial bilateral e o risco
de o Brasil, líder regional, se aproximar mais da China.
“Então eu acredito que vai haver uma hora que vai ter uma
fagulha e vai começar a negociação”, disse o presidente da Abimaq.
A questão é quando. No momento, a probabilidade de isso ocorrer
antes do dia 1º de agosto parece baixa.
Por outro lado, os canais de diálogo começam a se abrir.
Principal negociador, Alckmin manteve na segunda-feira mais uma reunião com o
secretário de Comércio, Howard Lutnick. A pedido do americano, um representante
do Departamento de Comércio dos EUA participou, ontem, de uma audiência de
representantes das big techs com o brasileiro. No encontro, foi criada uma mesa
de trabalho. Um tema a ser discutido, disse Alckmin, é a instalação de data
centers no Brasil.
Também ontem, Lutnick disse em entrevista à CNBC News que alguns
produtos não cultivados nos Estados Unidos, como café e cacau, poderão ficar de
fora do tarifaço.
Como o cenário ainda é incerto, o governo vem insistindo em duas
mensagens. A primeira é que a tarifa de 50% não deveria ser aplicada, porque
não faz sentido. A segunda é que o país seguirá na mesa de negociações, mesmo
se essa for oficializada. Ou seja, a coisa vai longe.
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