sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Trump está vencendo? - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

No curto prazo, EUA vêm obtendo ganhos com tarifas, mas terão de lidar com inflação e com perda de credibilidade entre países aliados

Donald Trump está vencendo? Por algumas contas, sim. Ele está conseguindo impor sobretaxas a seus parceiros comerciais sem encontrar resistência organizada. Nessa brincadeira, o Tesouro americano já arrecadou US$ 150 bilhões com tarifas, valor que deve pelo menos dobrar até o final deste ano.

A fórmula para lidar com valentões como Trump é não apenas conhecida como está inscrita em nossos DNAs de primatas gregários. É a reciprocidade, direta ou indireta. Na literatura de teoria dos jogos, as estratégias vencedoras ganham nomes como "tit-for-tat" e "win-stay, lose-shift".

É claro que só funciona se os agentes tiverem poder de fogo comparável ou se atores mais fracos se unirem para dar uma resposta coordenada. E é aí que está o problema. Mesmo atores que teriam cacife para peitar o Agente Laranja, como a União Europeia, optaram por aceitar perdas para evitar uma escalada que poderia trazer prejuízos ainda maiores mais adiante. Prudência ou covardia? A tática de Trump de alternar entre tratamentos relativamente benignos para quem se submete e ameaçar com o apocalipse para os que ensaiam resistência torna o pragmatismo tentador.

Devemos então reconhecer o presidente americano como gênio da estratégia e mestre das negociações? Não tão rápido. Como eu disse no início, Trump está se dando bem por algumas contas. E são contas que consideram só o curto prazo.

Se introduzirmos também o médio e longo prazos, o jogo muda. É muito difícil, para não dizer impossível, que as sobretaxas não gerem inflação, que costuma provocar danos eleitorais. No ano que vem Trump enfrenta as eleições de meio de mandato, que poderão custar aos republicanos o domínio de uma ou das duas Casas do Legislativo.

De forma mais dramática, Trump desfaz décadas de política de alianças, baseada em laços de confiança, soft power e ajuda externa, pela qual outros presidentes americanos tanto se empenharam. Mesmo no pós-Trump, outros países não voltarão tão cedo a confiar nos EUA, cuja liderança sairá muito machucada.

 

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