Folha de S. Paulo
No curto prazo, EUA vêm
obtendo ganhos com tarifas, mas terão de lidar com inflação e com perda de
credibilidade entre países aliados
Donald Trump está
vencendo? Por algumas contas, sim. Ele está conseguindo impor sobretaxas
a seus parceiros comerciais sem encontrar resistência organizada.
Nessa brincadeira, o Tesouro americano já arrecadou US$
150 bilhões com tarifas, valor que deve pelo menos dobrar até o final deste
ano.
A fórmula para lidar com valentões como Trump é não apenas conhecida como está inscrita em nossos DNAs de primatas gregários. É a reciprocidade, direta ou indireta. Na literatura de teoria dos jogos, as estratégias vencedoras ganham nomes como "tit-for-tat" e "win-stay, lose-shift".
É claro que só funciona se
os agentes tiverem poder de fogo comparável ou se atores mais fracos se unirem
para dar uma resposta coordenada. E é aí que está o problema. Mesmo atores que
teriam cacife para peitar o Agente Laranja, como a União
Europeia, optaram por aceitar
perdas para evitar uma escalada que poderia trazer prejuízos ainda
maiores mais adiante. Prudência ou covardia? A tática de Trump de alternar
entre tratamentos relativamente benignos para quem se submete e ameaçar com o
apocalipse para os que ensaiam resistência torna o pragmatismo tentador.
Devemos então reconhecer o
presidente americano como gênio da estratégia e mestre das negociações? Não tão
rápido. Como eu disse no início, Trump está se dando bem por algumas contas. E
são contas que consideram só o curto prazo.
Se introduzirmos também o
médio e longo prazos, o jogo muda. É muito difícil, para não dizer impossível,
que as sobretaxas não gerem inflação, que
costuma provocar danos eleitorais. No ano que vem Trump enfrenta as eleições de
meio de mandato, que poderão custar aos republicanos o domínio de uma ou das
duas Casas do Legislativo.
De forma mais dramática,
Trump desfaz décadas de política de alianças, baseada em laços de confiança,
soft power e ajuda externa, pela qual outros presidentes americanos tanto se
empenharam. Mesmo no pós-Trump, outros países não voltarão tão cedo a confiar
nos EUA, cuja liderança sairá muito machucada.
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