sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Arena política deixa cicatrizes - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Trump compra briga com o Brasil por motivações que põem em risco o futuro das relações bilaterais

chegada da hora do tarifaço, com exceções importantes, não altera o fato de que o cenário das relações entre Brasil e Estados Unidos é de incerteza total daqui em diante. Como será o amanhã?

Da parte de Donald Trump, é claro o intuito de dar uma canseira no Brasil, causar prejuízos políticos ao presidente Lula (PT) e promover ataque ao Judiciário na forma de cerco financeiro ao ministro Alexandre de Moraes. As motivações são tão variadas quanto obscuras.

Trump está a fim de briga e Lula tem reagido no mesmo diapasão. É nítido o entusiasmo com que o petista abraça a oportunidade de obter ganho de popularidade com a posição algo delinquente do colega do Norte.

O presidente se diz aberto a conversações, mas quando discorre sobre o tema o faz num tom de provocação ou de ironia em relação à atuação da família Bolsonaro que, por sua vez, atrai para si a solução do problema em termos impossíveis de serem atendidos.

Da maneira como está posto o impasse, ficam as partes no aguardo de quem piscará primeiro. Enquanto isso, o mundo real da produção e do consumo se aflige com as consequências.

Empresários e parlamentares movimentam-se em tratativas que podem desobstruir canais de comunicação, mas não resolvem porque a batida de martelos depende de decisões acima de suas possibilidades: localizam-se na Casa Branca, sob olhar aturdido do Palácio do Planalto.

Ainda assim, fala-se que o caminho agora seria o presidente Lula tomar a iniciativa de procurar Trump. Fazer um telefonema e abrir negociação. Dito assim, parece fácil. Mais ou menos da maneira simplória como o presidente propõe no palanque: "Tem divergência? Então, é só ir à mesa e resolver".

Ocorre que não há mesa à disposição, tampouco falamos de meras discordâncias a serem dirimidas com concessões de natureza econômica. O embate é ideológico e se dá entre adversários detentores de forças desproporcionais, correlação na qual a construção de acordos favorece o dono da força, imprevisível e desprovido de limites.

 

Nenhum comentário: