O Estado de S. Paulo
Há enorme desproporção entre
o tamanho da ameaça “extraordinária” do Brasil aos Estados Unidos, que o
presidente Trump diz que existe, e as providências por ele tomadas para
garantir esse futuro em risco.
Nas justificativas expostas
para o pacote tarifário, Trump afirma que é um revide às “políticas práticas e
ações recentes do governo brasileiro que constituem ameaça incomum e
extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados
Unidos”.
É quase como dizer que o
Brasil prepara o lançamento de uma bomba sobre Washington. E, no entanto, por
mais que se deplore, o tarifaço atenuado e o enquadramento do ministro do
Supremo Alexandre de Moraes às sanções previstas na Lei Magnitsky, destinada a
produzir a morte financeira de ditadores, terroristas e narcotraficantes, estão
longe de eliminar as supostas insegurança e debilidade econômica dos domínios
do Grande Khan.
Ninguém ainda espera demonstrações de lógica aristotélica dos textos divulgados pelo presidente Trump. Em carta anterior, ele afirmara que o tarifaço seria inevitável porque o Brasil mantém um enorme rombo nas suas relações comerciais com os Estados Unidos, o que é uma falsidade estatística. No entanto, convém ter claro que as premissas ao pacote assinado por Trump, ainda que capengas, podem estar preparando novas porretadas sobre o Brasil.
A provável condenação do
ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo, prevista para final de agosto ou
começo de setembro, pode ser usada como pretexto para novas represálias. O
Brasil passou a ser alvo preferencial da maior potência econômica e política do
mundo.
Essa ameaça não pode levar o
governo Lula a provocar a jararaca com o pé descalço, como tem feito – por
exemplo, quando enaltece a ditadura iraniana ou quando tenta lançar o Brics
contra o dólar. Nem pode manter o País paralisado, como se nada pudesse ser
feito.
Negociar o que pode ser
negociado é um caminho necessário. Mas é pouco, porque só é eficaz quando reduz
as perdas das empresas dos Estados Unidos. Também não basta assegurar algum
nível de união nacional contra o perigo comum. É preciso preparar o Brasil para
turbulências.
Isso implica fortalecer a
economia com providências fiscais destinadas a derrubar os juros e a conter a
expansão da dívida pública, o maior flanco vulnerável da economia nacional.
Para isso, não é suficiente aumentar impostos; é preciso reduzir as despesas
públicas, tarefa que ficou mais fácil quando o desemprego caiu a 5,8% da força
de trabalho, o nível mais baixo desde 2012.
Além disso, é preciso
diversificar os mercados, negociar novos acordos comerciais, abrir a economia e
eliminar o excesso de protecionismo que tolhe o setor produtivo local.
Até há algumas semanas, o
governo Lula entrou no modo eleições e nada, além disso, ocupou sua cabeça. O
tarifaço do Trump e tudo o que veio junto passou a exigir mudanças nessa pauta
política.
Nenhum comentário:
Postar um comentário