sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Espada sobre a cabeça do mundo - Vera Magalhães

O Globo

Trump pune o Brasil pelo fato de a Justiça ter processar aqueles que, como ele, tentaram dar um golpe de Estado, e ter aprovado responsabilização das big techs

São duas as principais razões da perseguição do governo dos Estados Unidos ao Brasil, em múltiplas frentes, e elas não se referem a nenhuma razão comercial relevante ou minimamente justificável, pois são apenas políticas. O país está sendo sancionado com um tarifaço de 50%, e a Lei Magnitsky está sendo desvirtuada para atingir Alexandre de Moraes porque o Judiciário brasileiro está processando e condenando aqueles que, como Donald Trump, tentaram dar um golpe de Estado.

A segunda razão é o fato de o próprio STF ter aprovado recentemente a responsabilização das big techs, quando reconheceu a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet.

Nesse contexto de uma perseguição puramente política, engendrada num conluio entre a família Bolsonaro e o governo Trump, o governo Lula age de forma correta ao não ter se apressado para negociar o tarifaço. A própria lista gigante de 694 exceções à taxação de 50% evidencia que as razões não são se contrapor a qualquer tipo de desequilíbrio nas relações comerciais dos dois países. Aliás, as razões comerciais simplesmente sumiram da justificativa da Casa Branca no comunicado em que concretiza a ameaça de taxar o Brasil.

Frustra a ideia que Trump tem de negociação --aquela em que ele faz uma chantagem e os países ou blocos correm para ceder a sua pressão-- o fato de o governo Lula ter jogado parado. As exceções vieram "de graça", sem necessidade do tal telefonema ou de ouvir desaforos do republicano. O adiamento de sete dias úteis anunciado nesta quarta-feira é a senha de que os Estados Unidos querem ser procurados para a tal "conversa". Dado o tom de absoluto desrespeito e as medidas inaceitáveis e inéditas contra a soberania do governo e do Judiciário brasileiro, não parece haver termos razoáveis de negociação.

A resposta mais dura deverá vir do Supremo Tribunal Federal. Não só Alexandre de Moraes, mas a maioria dos ministros usará a sessão de volta dos trabalhos, na sexta-feira, para rechaçar as sanções estabelecidas contra o ministro e reiterar que a Corte seguirá julgando os processos com total independência.

 

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