sexta-feira, 26 de setembro de 2025

BC prevê PIB miudinho para o ano eleitoral. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Para o BC, economia cresce 1,5% no ano que vem, menos da metade do que se viu em 23 e 24

Apesar dos melhores números de emprego, PIB e social em 13 anos, prestígio de Lula não decola

Banco Central estima que a economia do Brasil vai crescer 1,5% no ano que vem, de eleições, como revelou nesta quinta. Na mediana e na média das previsões de "o mercado", o crescimento seria de 1,8%. O PIB cresceu 3,2% em 2023 e 3,4% em 2024. Na média, aumentou 1,4% de 2017 a 2019 —depois da Grande Recessão e antes do começo da epidemia.

Seja lá o que se entenda por "efeito da economia" na eleição, o número da estimativa do BC não soa bem para a hipótese de Lula 4. Em tese.

Na linguiça do PIB entra muito número importante que, no curto prazo, pode não dizer nada sobre o sentimento do povo de como anda a vida material. Pode bem ser também que as ideias do eleitor sobre a política ou assuntos correlatos determinem o que ele pense sobre "a economia". É o que temos visto nas pesquisas de opinião, aqui ou alhures.

A economia dos Estados Unidos estava uma maravilha, imaginava o Partido Democrata quando levou uma tunda de Donald Trump em 2024. A taxa de desemprego era das menores em cerca de meio século, a inflação caía, a produtividade crescia. A renda (PIB) per capita se recuperara do tombo da epidemia. Era de longe a que mais havia crescido entre os países maiores do mundo rico.

A opinião da cúpula do Partido Democrata não era a opinião do americano médio, bidu. A inflação caíra para cerca de 2,5%, mas chegara ao pico de 9,1% em 2022, a maior desde 1982. Pior: apenas em meados de 2023 o valor médio dos salários deixara de perder da inflação. Perto da eleição, a confiança dos americanos na economia era a mais baixa desde 1961, desde que a Universidade de Michigan começara a fazer essa pesquisa. E havia guerra político-cultural.

No Brasil do último triênio, dá para fazer uma listinha de números econômicos muito melhor que a dos democratas americanos em 2024. Mas, mesmo com avanços no trabalho, nos salários e na assistência social, a desconfiança econômica do brasileiro é grande; a avaliação de Luiz Inácio Lula da Silva mal sai do vermelho.

No mundo da numeralha macroeconômica, pouco ou nada vai mudar para melhor. A taxa de desemprego seria algo maior, a julgar pelas previsões. Os salários vão crescer bem mais devagar, na média. Ainda que a taxa básica do BC começasse a cair em janeiro de 2026, não faria efeito maior antes de 2027. Nas taxas bancárias, no crédito livre, daria para ver apenas uma redução de dois pontos percentuais até o final do ano, na média.

A isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil fará diferença, assim como a propaganda de vale-gás, vale-eletricidade etc. Mas o governo vai caminhar na beira do barranco econômico-político, afora riscos. Se forçar a barra do gasto, o caldo entorna cedo. Há seca. Vai se prolongar, dificultar a queda de preço de energia e juros, afetar safras e colheitas? O dólar em queda, cortesia de Trump, vai fazer algo mais pela inflação em 2026? Difícil, ainda menos porque o preço dos ativos financeiros estará pressionado por causa da eleição e do rolo fiscal previsto para 2027.

O "efeito da economia", mais do que sempre, pode atolar no lamaçal político. Além do mais, faz mais de década que o eleitorado espera novidade maior ou conversa decisiva sobre assuntos para os quais se dá pouca atenção séria e eleitoral (segurança, uma crise nacional, e saúde, representatividade política). Inventar conversa nova vai ser essencial para qualquer lado da disputa, para o governo em particular.

 

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