Folha de S. Paulo
Para o BC, economia cresce 1,5% no ano que
vem, menos da metade do que se viu em 23 e 24
Apesar dos melhores números de emprego, PIB e
social em 13 anos, prestígio de Lula não decola
O Banco Central estima
que a economia
do Brasil vai crescer 1,5% no ano que vem, de eleições, como
revelou nesta quinta. Na mediana e na média das previsões de "o
mercado", o crescimento seria de 1,8%. O PIB cresceu
3,2% em 2023 e 3,4% em 2024. Na média, aumentou 1,4% de 2017 a 2019 —depois da
Grande Recessão e antes do começo da epidemia.
Seja lá o que se entenda por "efeito
da economia"
na eleição, o número da estimativa do BC não soa bem para a hipótese de Lula 4. Em
tese.
Na linguiça do PIB entra muito número importante que, no curto prazo, pode não dizer nada sobre o sentimento do povo de como anda a vida material. Pode bem ser também que as ideias do eleitor sobre a política ou assuntos correlatos determinem o que ele pense sobre "a economia". É o que temos visto nas pesquisas de opinião, aqui ou alhures.
A economia dos Estados
Unidos estava uma maravilha, imaginava o Partido Democrata quando
levou uma tunda de Donald Trump em
2024. A taxa de desemprego era
das menores em cerca de meio século, a inflação caía,
a produtividade crescia. A renda (PIB) per capita se recuperara do tombo da
epidemia. Era de longe a que mais havia crescido entre os países maiores do
mundo rico.
A opinião da cúpula do Partido Democrata não
era a opinião do americano médio, bidu. A inflação caíra para cerca de 2,5%,
mas chegara ao pico de 9,1% em 2022, a maior desde 1982. Pior: apenas em meados
de 2023 o valor médio dos salários deixara de perder da inflação. Perto da
eleição, a confiança dos americanos na economia era a mais baixa desde 1961,
desde que a Universidade de Michigan começara a fazer essa pesquisa. E havia
guerra político-cultural.
No Brasil do último triênio, dá para fazer
uma listinha de números econômicos muito melhor que a dos democratas americanos
em 2024. Mas, mesmo com avanços no trabalho, nos salários e na assistência
social, a desconfiança econômica do brasileiro é grande; a avaliação de Luiz
Inácio Lula da Silva mal sai do vermelho.
No mundo da numeralha macroeconômica, pouco
ou nada vai mudar para melhor. A taxa de desemprego seria algo maior, a julgar
pelas previsões. Os salários vão crescer bem mais devagar, na média. Ainda que
a taxa básica do BC começasse a cair em janeiro de 2026, não faria efeito maior
antes de 2027. Nas taxas bancárias, no crédito livre, daria para ver apenas uma
redução de dois pontos percentuais até o final do ano, na média.
A isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil
fará diferença, assim como a propaganda de vale-gás, vale-eletricidade etc. Mas
o governo vai caminhar na beira do barranco econômico-político, afora riscos.
Se forçar a barra do gasto, o caldo entorna cedo. Há seca. Vai se prolongar,
dificultar a queda de preço de energia e juros, afetar
safras e colheitas? O dólar em
queda, cortesia de Trump, vai fazer algo mais pela inflação em 2026? Difícil,
ainda menos porque o preço dos ativos financeiros estará pressionado por causa
da eleição e do rolo fiscal previsto para 2027.
O "efeito da economia", mais do que
sempre, pode atolar no lamaçal político. Além do mais, faz mais de década que o
eleitorado espera novidade maior ou conversa decisiva sobre assuntos para os
quais se dá pouca atenção séria e eleitoral (segurança, uma crise nacional,
e saúde,
representatividade política). Inventar conversa nova vai ser essencial para
qualquer lado da disputa, para o governo em particular.
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