sexta-feira, 26 de setembro de 2025

King Kong e King Trump. Por Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Os dois animais têm perigosas características em comum

Mas Kong, isolado, perdeu, e Trump, cercado de subtramps, pode ganhar

Quando vejo Donald Trump em foto, vídeo ou pesadelo, lembro-me de King Kong. Há várias semelhanças entre ele e o grande gorila do cinema –talvez o tronco, gigante demais sobre as pernas finas, ou a cabeça, muito pequena para o corpo. Os dois animais fazem jus por igual a essas definições. Mas as maiores afinidades estão em suas biografias.

Como sabemos, King Kong estava posto em sossego em sua fortaleza no alto de uma montanha na ilha da Caveira, em algum ponto da África, dedicado a capturar pterodáctilos para o almoço e esmagar sem querer os nativos ao pisar neles. De repente, defrontou-se com uma equipe de cinema, que o capturou à custa de bombas de gás e, cruzando os mares, levou-o a ferros para Nova York a fim de exibi-lo num mafuá.

Trump também estava quieto nas profundezas de seu triplex nos 56º, 57º e 58º andares da Trump Tower, em Nova York, dedicando-se a empalmar bundas de senhoras no elevador, passar fins de semana com o protetor de menores Jeffrey Epstein e enriquecer à custa de trampolinagens. Um dia, foi descoberto pelo Partido Republicano, que pensou exibi-lo nos mafuás de Washington, para assustar os Democratas, que ameaçavam se eternizar no poder.

Mas, para ambos, o inesperado fez uma surpresa. Kong, exposto à visitação pública no Madison Square Garden, rompeu as amarras, bateu nos peitos e saiu fazendo misérias por Nova York. Descarrilhou o metrô, mastigou alguns policiais e, entre aqueles milhares de arranha-céus, localizou exatamente o quarto onde dormia a bela Fay Wray e sequestrou-a pela janela. Em fuga, escalou o Empire State, de onde foi metralhado pelos teco-tecos e esborrachou-se lá embaixo. Trump também libertou-se das amarras do Partido Republicano, encavernou-se na Casa Branca e, apenas por bater o pau na mesa, tem hoje aos seus pés os apatetados EUA.

King Kong perdeu porque não tinha ninguém a apoiá-lo. Já King Trump tem um exército de subtramps a seu serviço e, não duvide, metade do país aprova a sua escalada para uma ditadura.

 

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