sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Tecnologia e taxação do desemprego. Por Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Têm coisas que à primeira vista parecem recomendáveis e fazem sentido, mas que se mostram prejudiciais quando colocadas em prática. O consumo de álcool e tabaco é um desses casos. A taxação da tecnologia para conter o desemprego, outro.

Em sua coluna desta quintafeira aqui no Estadão, o especialista em Economia do Trabalho, José Pastore, mostrou como a proposta de taxação de empresas que desempregam a partir do uso de tecnologia, para repassar recursos para requalificação dos profissionais traz mais problemas do que soluções.

É ideia que, em princípio, parece justa. É defendida até por Bill Gates, um dos campeões mundiais da tecnologia digital.

A partir das questões plantadas por Pastore, é preciso enveredar por outras. Têm empresas que adotam mais tecnologia e as que adotam menos. Como medir o efeito no desemprego e, em consequência disso, a dosimetria correta para a aplicação do imposto em cada caso?

Empresas novas que já nascem tecnificadas e para isso não demitiram ninguém também teriam de ser taxadas? Exemplo gritante são as fintechs criadas sem bancários. Por não carregarem esse custo trabalhista, fazem concorrência desigual com a rede bancária convencional.

Uma das maiores categorias trabalhistas do Brasil é a dos comerciários. O desemprego semeado no setor pelas novas empresas do e-commerce espalhase por centenas de milhares de lojas e casas de comércio. Não se concentra numa grande empresa. Seria o caso de taxar a Amazon, a Mercado Livre, a Magalu e tantas outras por essa revolução no mercado de trabalho? As malas de rodinhas acabaram com a profissão dos carregadores de bagagem nos aeroportos e rodoviárias. O carro elétrico vai pulverizar o mercado de frentistas dos povos de combustíveis. Os carteiros tendem a desaparecer porque ninguém mais escreve cartas nem manda telegramas. Os veículos autônomos conspiram contra o futuro dos taxistas, dos motoristas de ônibus e de caminhão. Quem contribuiria com impostos para compensar esses estragos? Se não tivesse mudado de vida, o presidente Lula teria sido demitido da empresa em que trabalhou porque não conseguiria pilotar um torno moderno, carregado de tecnologia embarcada.

O professor Pastore observa que os países mais avançados em tecnologia são os que apontam os mais baixos índices de desemprego. Por que? Porque também contam com serviços de qualificação, requalificação e treinamento de pessoal.

Desde o uso do fogo ou da invenção da roda, o ser humano tem de lidar com revoluções tecnológicas e com seu impacto sobre as ocupações.

A solução, aponta Pastore, está nos programas de treinamento e de recapacitação de mão de obra. Em boa parte, as próprias empresas vêm tomando a iniciativa nessa área, até mesmo com a ajuda do Sesi e do Senac.

Mas não basta isso. Neste ambiente de revolução tecnológica, é preciso dar mais atenção à política de estado para capacitação de mão de obra. •

 

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