O Estado de S. Paulo
Têm coisas que à primeira vista parecem
recomendáveis e fazem sentido, mas que se mostram prejudiciais quando colocadas
em prática. O consumo de álcool e tabaco é um desses casos. A taxação da
tecnologia para conter o desemprego, outro.
Em sua coluna desta quintafeira aqui no
Estadão, o especialista em Economia do Trabalho, José Pastore, mostrou como a
proposta de taxação de empresas que desempregam a partir do uso de tecnologia,
para repassar recursos para requalificação dos profissionais traz mais
problemas do que soluções.
É ideia que, em princípio, parece justa. É defendida até por Bill Gates, um dos campeões mundiais da tecnologia digital.
A partir das questões plantadas por Pastore,
é preciso enveredar por outras. Têm empresas que adotam mais tecnologia e as
que adotam menos. Como medir o efeito no desemprego e, em consequência disso, a
dosimetria correta para a aplicação do imposto em cada caso?
Empresas novas que já nascem tecnificadas e
para isso não demitiram ninguém também teriam de ser taxadas? Exemplo gritante
são as fintechs criadas sem bancários. Por não carregarem esse custo
trabalhista, fazem concorrência desigual com a rede bancária convencional.
Uma das maiores categorias trabalhistas do
Brasil é a dos comerciários. O desemprego semeado no setor pelas novas empresas
do e-commerce espalhase por centenas de milhares de lojas e casas de comércio.
Não se concentra numa grande empresa. Seria o caso de taxar a Amazon, a Mercado
Livre, a Magalu e tantas outras por essa revolução no mercado de trabalho? As
malas de rodinhas acabaram com a profissão dos carregadores de bagagem nos
aeroportos e rodoviárias. O carro elétrico vai pulverizar o mercado de
frentistas dos povos de combustíveis. Os carteiros tendem a desaparecer porque
ninguém mais escreve cartas nem manda telegramas. Os veículos autônomos
conspiram contra o futuro dos taxistas, dos motoristas de ônibus e de caminhão.
Quem contribuiria com impostos para compensar esses estragos? Se não tivesse
mudado de vida, o presidente Lula teria sido demitido da empresa em que
trabalhou porque não conseguiria pilotar um torno moderno, carregado de
tecnologia embarcada.
O professor Pastore observa que os países
mais avançados em tecnologia são os que apontam os mais baixos índices de
desemprego. Por que? Porque também contam com serviços de qualificação,
requalificação e treinamento de pessoal.
Desde o uso do fogo ou da invenção da roda, o
ser humano tem de lidar com revoluções tecnológicas e com seu impacto sobre as
ocupações.
A solução, aponta Pastore, está nos programas
de treinamento e de recapacitação de mão de obra. Em boa parte, as próprias
empresas vêm tomando a iniciativa nessa área, até mesmo com a ajuda do Sesi e
do Senac.
Mas não basta isso. Neste ambiente de
revolução tecnológica, é preciso dar mais atenção à política de estado para
capacitação de mão de obra. •
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