O Estado de S. Paulo
Se a ‘química’ de Trump e Lula é boa, a de Alcolumbre e Motta vai de mal a pior
Se a “química” entre Donald Trump e Lula
surpreendeu todo mundo, inclusive eles próprios, a “química” entre os
presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Hugo Motta, parece que não
anda nada boa depois que os senadores sepultaram a PEC da Bandidagem, ops!, da
Blindagem, e atropelaram a Câmara na aprovação da isenção do IR até R$ 5 mil
por mês.
Alcolumbre assume a liderança para derrubar o que é contrário e aprovar o que é favorável aos interesses da sociedade, deixando Motta na constrangedora situação de quem faz o contrário: deixa a isenção do IR para lá e dá prioridade a uma PEC que livra a cara de parlamentar corrupto, tornando o Congresso um chamariz para chefes de organizações criminosas ávidos por impunidade.
A reação contra a PEC foi imediata e potente,
a ponto de deputados gravarem vídeos pedindo desculpas pelo apoio a ela e
evoluir para as manifestações de domingo passado, com os grandes nomes da
música no Rio e milhares de pessoas em todas as capitais dizendo “não” à
blindagem parlamentar e à anistia para quem articulou e tentou um golpe de
Estado.
Como resultado, a CCJ do Senado derrubou a
PEC por unanimidade, 26 a zero, unindo gregos e troianos, bolsonaristas e
governistas, e dispensando votação no plenário e volta à Câmara, obrigatórias
caso fossem feitas mudanças no texto original.
Não bastasse, a Comissão de Assuntos
Econômicos do Senado aprovou de um dia para o outro a isenção do IR até R$ 5
mil, com aumento de alíquota para quem ganha acima de R$ 50 mil ao mês. Um
texto bastante semelhante ao do governo, parado há meses na Câmara.
A semana fecha com a expectativa de
aproximação de Trump e Lula e de afastamento de Alcolumbre e Motta em torno de
pautas fundamentais. Entre EUA e Brasil, comércio, tarifaço e acordos sobre o
uso de “terras raras” brasileiras. Entre Senado e Câmara, o sobe e desce da
anistia para golpistas e para o comandante do golpe. Como o atropelamento da
PEC da Blindagem e da isenção do IR impacta a proposta de anistia?
Trump e Lula se encontraram alguns minutos na
Assembleia-Geral da ONU, assumiram boa “química” entre eles e acenaram com uma
reunião na semana que vem, por videoconferência. Na diplomacia, alívio. Nos
setores atingidos pelo tarifaço, esperança. Na família Bolsonaro – que
considerou um truco do “genial” Trump –, desespero. Como Trump é Trump, é melhor
esperar para ver.
E entre Alcolumbre e Motta há a sociedade, o
governo, 2026 e o Supremo. Até aqui, o Senado surfa na boa onda, enquanto a
Câmara afunda e Motta parece à deriva. Mas o troco vem aí.
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