segunda-feira, 28 de abril de 2025

No Rio, chanceleres do Brics discutirão tarifas de Trump e alternativa ao dólar

Camila Zarur / Valor Econômico

Parceria contra doenças socialmente determinadas também está na pauta de discussões

Os ministros de Relações Exteriores dos 11 países que fazem parte dos Brics vão se reunir nesta segunda e terça-feira (28 e 29), no Rio de Janeiro. O encontro, que também contará com a participação de países parceiros do grupo, é o primeiro dos chanceleres sob a presidência brasileira do bloco.

De acordo com o embaixador Maurício Lyrio, principal negociador brasileiro no grupo e secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, o Brasil tem como prioridade para o encontro do Brics debater temas como comércio exterior, mudança do clima e arquitetura multilateral de paz e segurança.

O encontro acontece em meio à guerra tarifária imposta pelo presidente americano Donald Trump ao adotar medidas ultra protecionistas e sobretaxar países. A situação é um dos temas em debates pelos chanceleres, que deverão divulgar uma declaração conjunta crítica às chamadas “medidas unilaterais” — como a adotada pelos Estados Unidos — e a favor da Organização Mundial de Comércio (OMC).

O comunicado deve ser divulgado no primeiro dia do encontro. Na segunda-feira, as reuniões contarão com a participação apenas dos membros do Brics, sem os países parceiros — eles estarão na mesa dos debates de terça-feira.

De acordo com diplomatas, o texto do comunicado tem cerca de 50 parágrafos. O documento está sendo elaborado pelos sherpas, como são chamados os negociadores dos países, e vai ser apresentado aos chanceleres para que seja discutido. Caso haja consenso, conforme é esperado, ele será divulgado durante a reunião ministerial.

Há uma expectativa de que a declaração aborde, ao menos superficialmente, alternativas ao uso do dólar nas relações comerciais entre os países do grupo. Esse é um tema em debate entre os chanceleres, que estudam a possibilidade de facilitar os meios de pagamento com o uso, por exemplo, de tecnologias blockchain que permitiriam transações com moedas locais. A proposta é diferente da criação de uma moeda única, que já foi aventada no passado e alvo de críticas de Trump.

Segundo fontes a par das conversas, no entanto, não deve haver avanços substanciais no debate de alternativas ao dólar por dois motivos. Primeiro, por ainda não há consenso no bloco de como isso seria feito. Segundo, porque há uma avaliação de que antes é preciso discutir adaptações institucionais diante da nova composição do Brics. Quando o tema começou a ser discutido, o bloco só tinha cinco membros; hoje são 11, com nove países parceiros.

Na segunda-feira, os chanceleres vão fazer duas reuniões: uma sobre o papel do BRICS no enfrentamento dos desafios globais e crises regionais, o que inclui desde as tarifas de Trump a guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza; e a outra mesa sobre governança global e fortalecimento dos sistemas multilaterais. A fala de abertura do chanceler brasileiro, Mauro Vieira, deve ser transmitida a jornalistas.

Já na terça-feira, com os países parceiros do Brics, a reunião será sobre o peso do Sul Global no multilateralismo. Também haverá à mesa a discussão de uma parceria para a eliminação de doenças socialmente determinadas — uma prioridade do Brasil na presidência do bloco.

“Uma das prioridades mais altas do Brasil no Brics é a ideia de reforço da governança global, principalmente com vista a fortalecer as posições dos países do Sul Global, dos países emergentes e em desenvolvimento”, afirmou Lyrio neste sábado.

Em paralelo ao encontro dos chanceleres, Mauro Vieira terá reuniões bilaterais com os ministros das Relações Exteriores da Indonésia, da Rússia, Tailândia, China, Cuba, Nigéria e Etiópia. Por parte da Rússia, estará presente Sergey Lavrov, e da China, o enviado é o ministro Wang Yi.

Hoje, o Brics é composto por 11 membros: Brasil, China, Índia, Rússia, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita, Emirados Unidos e Indonésia. O encontro no Rio também contará com os ministros de Relações Exteriores dos nove países parceiros do bloco. São eles: Belarus, Bolívia, Cuba, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão.

Até o momento, sob a presidência brasileira do bloco, já foram feitas quatro reuniões ministeriais do BRICS: meio ambiente, agricultura, mulheres e trabalho. Nos dias 6 e 7 de julho, está marcada a cúpula dos chefes de Estado do Brics. O evento acontecerá também no Rio de Janeiro.

 

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