Parceria contra doenças socialmente
determinadas também está na pauta de discussões
Os ministros de Relações Exteriores dos 11
países que fazem parte dos Brics vão
se reunir nesta segunda e terça-feira (28 e 29), no Rio de Janeiro. O
encontro, que também contará com a participação de países parceiros do grupo, é
o primeiro dos chanceleres sob a presidência brasileira do bloco.
De acordo com o embaixador Maurício Lyrio, principal negociador brasileiro no grupo e secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, o Brasil tem como prioridade para o encontro do Brics debater temas como comércio exterior, mudança do clima e arquitetura multilateral de paz e segurança.
O encontro acontece em meio à guerra
tarifária imposta pelo presidente americano Donald Trump ao adotar medidas
ultra protecionistas e sobretaxar países. A situação é um dos temas em debates
pelos chanceleres, que deverão divulgar uma declaração conjunta crítica às
chamadas “medidas unilaterais” — como a adotada pelos Estados Unidos — e a
favor da Organização Mundial de Comércio (OMC).
O comunicado deve ser divulgado no primeiro
dia do encontro. Na segunda-feira, as reuniões contarão com a participação
apenas dos membros do Brics, sem os países parceiros — eles estarão na mesa dos
debates de terça-feira.
De acordo com diplomatas, o texto do
comunicado tem cerca de 50 parágrafos. O documento está sendo elaborado pelos
sherpas, como são chamados os negociadores dos países, e vai ser apresentado
aos chanceleres para que seja discutido. Caso haja consenso, conforme é
esperado, ele será divulgado durante a reunião ministerial.
Há uma expectativa de que a declaração
aborde, ao menos superficialmente, alternativas ao uso do dólar nas relações
comerciais entre os países do grupo. Esse é um tema em debate entre os
chanceleres, que estudam a possibilidade de facilitar os meios de pagamento com
o uso, por exemplo, de tecnologias blockchain que permitiriam transações com
moedas locais. A proposta é diferente da criação de uma moeda única, que já foi
aventada no passado e alvo de críticas de Trump.
Segundo fontes a par das conversas, no
entanto, não deve haver avanços substanciais no debate de alternativas ao dólar
por dois motivos. Primeiro, por ainda não há consenso no bloco de como isso
seria feito. Segundo, porque há uma avaliação de que antes é preciso discutir
adaptações institucionais diante da nova composição do Brics. Quando o tema
começou a ser discutido, o bloco só tinha cinco membros; hoje são 11, com nove
países parceiros.
Na segunda-feira, os chanceleres vão fazer
duas reuniões: uma sobre o papel do BRICS no enfrentamento dos desafios globais
e crises regionais, o que inclui desde as tarifas de Trump a guerras na Ucrânia
e na Faixa de Gaza; e a outra mesa sobre governança global e fortalecimento dos
sistemas multilaterais. A fala de abertura do chanceler brasileiro, Mauro
Vieira, deve ser transmitida a jornalistas.
Já na terça-feira, com os países parceiros do
Brics, a reunião será sobre o peso do Sul Global no multilateralismo. Também
haverá à mesa a discussão de uma parceria para a eliminação de doenças
socialmente determinadas — uma prioridade do Brasil na presidência do bloco.
“Uma das prioridades mais altas do Brasil no
Brics é a ideia de reforço da governança global, principalmente com vista a
fortalecer as posições dos países do Sul Global, dos países emergentes e em
desenvolvimento”, afirmou Lyrio neste sábado.
Em paralelo ao encontro dos chanceleres,
Mauro Vieira terá reuniões bilaterais com os ministros das Relações Exteriores
da Indonésia, da Rússia, Tailândia, China, Cuba, Nigéria e Etiópia. Por parte
da Rússia, estará presente Sergey Lavrov, e da China, o enviado é o ministro
Wang Yi.
Hoje, o Brics é composto por 11 membros:
Brasil, China, Índia, Rússia, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã, Arábia
Saudita, Emirados Unidos e Indonésia. O encontro no Rio também contará com os
ministros de Relações Exteriores dos nove países parceiros do bloco. São eles:
Belarus, Bolívia, Cuba, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e
Uzbequistão.
Até o momento, sob a presidência brasileira
do bloco, já foram feitas quatro reuniões ministeriais do BRICS: meio ambiente,
agricultura, mulheres e trabalho. Nos dias 6 e 7 de julho, está marcada a
cúpula dos chefes de Estado do Brics. O evento acontecerá também no Rio de
Janeiro.
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